Na parada de ônibus, um rapaz esperava seu transporte. “O carro tinha que dá problema logo na semana do meu casamento!”. Tinha muitas coisas para resolver. Estava um pouco ansioso. Sua noiva era bonita, trabalhava e era de boa família; os dois tinham muito em comum.
O ônibus parou e ele pôde ver uma mulher de expressão triste sentada ao lado da janela, ela também o vira – é o meu ônibus – pensou, antes de subir. Havia poucos lugares vagos, acabou sentando ao lado daquela moça.
Ela olhava com tristeza, para fora, para longe. De vez em quando, o homem ouvia uns soluços abafados. Em certo momento, percebeu um filete de água escorrendo pelo rosto da jovem, já estava na altura do queixo.
-Você está bem? - perguntou o rapaz.
Sem desviar o olhar, ela acenou que sim.
-É que você está... E-eu posso te ajudar? - insistiu.
Ela mordeu o lábio, demorou um pouco a responder. Depois enrolou o braço no dele e voltou-lhe a face parcialmente coberta pelos cabelos:
-Só preciso de um pouco de conforto – disse a mulher apoiando a face no ombro dele.
Mais lágrimas foram despejadas, acompanhas de leves soluços... Alguns minutos depois, ela se levantou, enxugou parcialmente o rosto e pediu parada. Antes de descer, despediu-se: “Obrigada!”. O noivo ficou com a imagem daquela mulher na sua mente por algumas horas.
O casamento foi no sábado: igreja cheia, decoração caprichada, muita comida e o carro estava novo em folha. Quando o padre perguntou se alguém tinha algo contra aquela união, a memória do rapaz o levou a 15 anos atrás...
Naquele tempo ele ainda não gostava de tomar banho e jogava bolinha de gude. Em poucos dias mudaria para outra cidade, estava se despedindo de sua melhor amiga. Não foi fácil, ele a conhecia desde quando ainda usavam chupeta. Fizeram um juramento: quando ficassem adultos, ele voltaria para buscá-la, os dois se casariam e viveriam felizes para sempre.
O noivo sacudiu a cabeça e as memórias foram embora. O casamento foi lindo, todos comentaram; a lua-de-mel, maravilhosa. Deu tudo certo. Ele se casou, teve filhos, conforto e sucesso.
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Como vocês perceberam, isso aí em cima não tem nada a ver com minhas outras "historinhas", esse é o tal conto que eu falei em um post anterior - aliás, isso é um conto mesmo? nunca fui muito bom em diferenciar os gêneros literários... Gostaria de agradecer a um amigo meu que me inspirou a fazer essa historinha aí!
PS1: não! isso não aconteceu com ele, pelo menos não ainda... :]
PS2: ah! e antes que venham me caluniar, o diminutivo "historinha" está mais num sentido pejorativo do que outra coisa.