O calor era insuportável. Seu rosto se banhava em suor
enquanto as chamas aumentavam. Os camponeses a observavam; uns pareciam tristes,
mas outros gritavam e jogavam pedras. Ela tinha cuidado dos doentes, das
mulheres grávidas, tinha preparado infusões, dado conselhos... Mesmo assim,
eles a puseram numa fogueira. As lágrimas em seu rosto se confundiam com o
suor. A dor cortante arrancava-lhe gritos horríveis. Sua vida se transformava
em cinzas. Já não tinha esperanças quando começou a chover.
Todos na vila a conheciam, era uma espécie de
curandeira. Muitos a buscavam quando estavam doentes e ela recebia a todos.
Tinha uns quarenta anos e ainda era bela. Quando o conde da região visitou a
aldeia, ficou encantado com sua beleza. Ofereceu-lhe um bom dinheiro para que
cedesse a seus favores. A senhora, no entanto, recusou-se a fazê-lo e o agrediu
quando ele tentou de todos os modos tirar sua roupa. Sentindo-se humilhado, o
nobre ordenou que a prendessem.
Como não era cristã, o conde a acusou de ser bruxa e
pediu ao padre da vila que a condenasse por bruxaria. O velho sacerdote tinha
boas relações com seu senhor, por isso fez o possível para preparar o
necessário para a condenação. No entanto, o padre adoeceu uns dias depois e
morreu.
Passou-se quase um mês para a Igreja enviar um substituto. O novo sacerdote era muito jovem e tinha ambição de crescer na
hierarquia eclesiástica. Assim que chegou à vila, lhe informaram sobre a
situação da bruxa. Por isso, analisou as anotações de seu antecessor e seguiu
com a execução, pois desejava ficar em bons termos com o conde.
A chuva veio muito tarde. Embora a água tenha apagado o
fogo, as queimaduras da mulher já eram muito profundas. Ela tinha sido uma
pessoa gentil que tentou ajudar a todos o máximo que pôde, mas nos últimos
instantes de vida seu coração se enegreceu. O ódio se apossou dela e ela
amaldiçoou toda a aldeia, sobretudo o jovem sacerdote. Finalmente, o fogo de
sua vida e a nobreza de sua alma se apagaram.
***
Hoje, o Rascunhos completa(ria?) 7 anos de existência. Por isso, achei interessante compartilhar um texto por aqui. Apesar de carecer um pouco de fidelidade histórica, acho que o conto ficou legal. Espero que gostem. Até logo.
2 comentários:
Um dia isso sai da cabeça, né?
Que absurdo! Queimar uma mulher por *achar* que ela é bruxa!
Todo mundo sabe que o procedimento correto é acorrentá-la e jogá-la no lago, e queimá-la apenas se sobreviver!
Que padre inculto!
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