10 de abr. de 2007

Noite na floresta

Anoitecera na floresta. O céu tornara-se um manto escuro adornado por muitos pontos brilhantes. A lua resplandecia grandiosa, era uma imensa pérola que flutuava majestosamente no céu noturno. Aquela era uma confortável noite de primavera. Uma brisa cálida passeava por entre as árvores cumprimentando seus habitantes como um sopro maternal. Era difícil acreditar que a algumas semanas atrás um vento gelado dominara aquela mata.

Hansi estava deitado sobre a grama, à margem de um riacho. Rynlon, ao seu lado, saboreava a carne de uma lebre suculenta. O sentinela observava as estrelas, ele sabia o nome de muitas delas. Naquele exato momento apreciava a constelação do hipogrifo. Aquela visão trazia-lhe lembranças. Lembranças agradáveis de um passado distante. Canções ecoavam em sua mente, os mais belos sons que já ouvira: o cântico das sacerdotisas de Sehanine Moonbow[1].

Apesar da atmosfera que o envolvia, o coração do ranger estava preocupado. Recentemente, ele descobrira que batedores orcs vagavam pela floresta. Algo inadmissível. Não entendia porque o arqui-ranger Adennon não organizara grupos de caça para exterminá-los quando soube da notícia. Ao invés disso, o líder dos millikars[2] apenas aumentara o número de patrulhas na borda ocidental da floresta. Vários dos sentinelas mais jovens ficaram descontentes com a decisão, mas nenhum deles se sentiu mais frustrado do que Hansi.

Um uivo alto ecoou pela noite. Rynlon se levantou abruptamente e começou a caminhar apreensivo. O sentinela não entendeu porque o animal ficara daquele jeito: sempre houve lobos naquela floresta e não era de se espantar que eles uivassem naquela noite de lua cheia. Tentou acalmar o cão, mas não obteve sucesso. Alguns minutos depois, o cachorro começou a ladrar em direção à margem oposta do riacho. Hansi espremeu os olhos para aquele lado e demorou para enxergar alguma coisa. Por fim, avistou uma forma saindo de trás das árvores.

Era, de fato, um lobo, mas havia algo de estranho nele. Sua pelagem parecia tão escura quanto as sombras da noite. O lupino caminhou até a beira do córrego e parou. Olhou na direção de Rynlon - que parara de ladrar - e, em seguida encarou Hansi. Havia um brilho nos olhos do lobo, o sentinela desconfiou que o animal o estava analisando. Passaram-se alguns segundos até ele voltar pelo mesmo caminho de onde viera. O ranger estava com o arco na mão, mas não viu motivos para disparar contra o animal, deixou-o partir. Demorou quase uma hora para Rynlon se tranquilizar. Isso preocupou o patrulheiro, que não dormiu bem naquela noite.

Veio a aurora, e com ela o canto de muitos pássaros. O seu cão já estava acordado quando Hansi se levantou. O meio-elfo juntou suas coisas e foi atrás de Adennon. O arqui-ranger morava numa pequena cabana de madeira e palha numa clareira da floresta. Era nesse lugar que os millikars haviam se reunido no dia anterior. A porta se abriu antes que o sentinela pudesse bater. Um homem velho - mas vigoroso - surgiu diante dele e o saudou com um sorriso:

- Olá, Hansi. Eu queria mesmo falar com você. Entre.

A cabana tinha uma mobília muito simples. Pouco mais do que uma pequena mesa de madeira, alguns bancos e uma cama de palha. Mas as paredes eram densamente adornadas. E Hansi achou aqueles adornos mais interessantes do que quaisquer pinturas que pudessem enfeitar a casa do mais rico dos nobres. Havia meia dúzia de arcos, um par de bestas e mais de dez adagas e espadas leves. Nenhuma arma era igual à outra, elas diferiam em tamanho, forma ou no material de que eram feitas. O sentinela desconfiou que cada uma tinha uma história diferente pra contar
também.

Assim que Hansi sentou-se num banco, Adennon perguntou:

- Algo o aflige, meu jovem?

- Ah... sim. Na noite passada, vi um animal bastante estranho. Um lobo de pelagem muito escura. Ele tinha um olhar esquisito, como se estivesse me julgando. Rynlon pareceu muito desconfortável na presença dele.

- Hmm... Um worg, talvez. Essas criaturas não habitam nossa floresta. Mas sei que há um bom número delas nas montanhas do oeste. Não são lobos normais. São predadores astutos e vis.

- Lembrarei dessas palavras caso encontre um deles novamente.

- É bem possível que isso aconteça. Pois quero que você continue patrulhando a borda oeste de nossa mata.

Hansi ficou supreso com essa palavras. Porque era exatamente a ala ocidental da floresta que ele gostaria de patrulhar.

- Eu... irei.

- Mas não irá sozinho.

Mais uma vez, o meio-elfo ficou surpreso. Sabia que o arqui-ranger estava mandando os patrulheiroso andar em pequenos grupos, mas Hansi sempre vagara sozinho pela floresta, não esperava ter que andar com alguém além de Rynlon.

Absorto em seus pensamentos, o patrulheiro não percebera a chegada de uma figura à entrada da cabana. O estranho homem vestia um peitoral de couro simples, usava uma capa e um capuz. Trazia uma espada leve de lâmina curvada presa ao cinto e o rosto estava coberto por uma estranha máscara de pano azul desbotada
.

- Ah, esse é Tolkki. Ele o acompanhará nas patrulhas.

Longe dali, além dos limites da floresta, uma pequena gruta se abre aos pés das montanhas. Uma figura canina - recém-chegada - narra sua incursão na floresta enquanto uma mão de coloração esverdeada acaricia o seu pelo negro. Quando o animal termina o relato, uma voz imponente se propaga pelo local:

- Bom trabalho, meu amigo. Bom trabalho.


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[1] Sehanine Moonbow é a deusa élfica dos mistérios, do céu, da lua e das estrelas. Seus servos atuam como conselheiros espirituais, realizam funerais e velam pelos mortos.

[2] Millikars, são os guardas de Mielikki, deusa cultuada por rangers, fadas e outras criaturas das florestas.

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Este post é o segundo sobre Hansi, o sentinela. Espero ainda escrever bastante sobre esse personagem. Pra quem não leu o primeiro, ou quiser reler, veja aqui.

4 de abr. de 2007

Alguns Comentários

Primeiro, eu gostaria de dizer que fiquei surpreso com a quantidade de pessoas que disseram que não gosta de poesia. Quase todos que comentaram no post anterior disseram isso. Bom, talvez não seja tão surpreendente assim. Eu mesmo não costumo ler poesias, nem em livros nem "avulsas" por aí. Acho que isso vem de como foi ensinado pra mim no colégio: eu não costumava entender as poesias trabalhadas em sala e os professores ainda davam interpretações às quais eu só podia replicar com um: "Sóóó..." Mas - estranhamente - sempre gostei de me aventurar no mundo dos versos: escrevendo.

Outra coisa que eu queria falar é que desisti de postar num futuro próximo as histórias da campanha que mestrei em Arton. Eu simplesmente não me sinto mais empolgado para criar - ou recriar - no cenário de Tormenta, é incrível! Estou participando como jogador de uma campanha neste cenário, está legal, mas para eu mestrar ou escrever contos não rola mais. Foi mal, amigos.

Bem, nesta quinta-feira estarei viajando. Pra quem fica, eu desejo um ótimo feriado. Pra quem ainda não viu, eu digo: assistam 300!

Semana que vem tou de volta. Tenho um texto quase pronto para postar. Farei isto quando voltar.

See you guys!