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19 de jul. de 2009

Carta ao Capitão Baleog

Saudações, Capitão Baleog

Conforme solicitado pelo senhor, novos recrutas estão a caminho para juntarem-se ao acampamento do Tenente Volkar. Eles chegarão em Quaervarr nos próximos dias e possuem instruções explícitas para procurá-lo e receberem ordens do senhor. Seus nomes são: Barundar Bloodaxe, Arya Moonstar, Lander Braveheart, Jullian Redwine e Lars Stoneshield. Tomei a liberdade de pesquisar um pouco sobre a origem de cada um deles; nunca se sabe quando um desses recrutas pode ser um espião da Irmandade Arcana ou dos Zhentarimm.

O jovem Barundar é um anão do clã Bloodaxe, conhecido por seus guerreiros ferozes; eles já defenderam Sundabar em incontáveis batalhas contra invasores orcs, sempre lutando de forma selvagem e determinada. Apesar de não serem muito bem vistos pelos outros anões da cidade, todos reconhecem o valor e a importância dos guerreiros do clã. Meu conselho é que dêem um machado para ele, joguem-no no campo de batalha e não cheguem perto.

A senhorita Arya Moonstar é de uma família abastada de Silverymoon; segundo meus contatos, os Moonstar estão quase falidos atualmente. É possível que ela tenha ingressado no exército como uma forma de fugir dos cobradores de débitos. Descobri que Arya estudou magia no Colégio da Senhora por vários anos e estou certo de que alguém versado nas artes arcanas pode ser bem útil ao Tenente Volkar.

Lander Braveheart vem do Poço de Beoruna e pertence ao uthgardt da tribo dos Leões Negros. A informação que eu tenho é que acordos comerciais já foram firmados entre a vila e casas mercantis atuantes nas Fronteiras Prateadas, tudo indica que esses “ex-bárbaros” queiram ingressar na Liga. Braveheart é um guerreiro habilidoso e fiel devoto de Torm e assim como outros jovens guerreiros da tribo parece ter ingressado no exército para demonstrar o apoio bélico que o Poço de Beorunna pode dar ao exército das Fronteiras.

Jullian Redwine é de uma família de halflings que já causou muitas dores de cabeça às autoridades de Everlund, Silverymoon e Sundabar. Responsáveis por dezenas de furtos e contrabandos na região, eles foram capturados a poucos meses nas proximidades de Silverymoon. Ciente do potencial que o jovem Jullian poderia ter como batedor e espadachim, foi proposto um acordo com ele para reduzir sua pena e de sua família. Seus talentos o servirão bem e, embora eu não ache que ele tentará fugir, é sempre bom manter os olhos atentos para seus pertences.

O anão Lars Stoneshield é um jovem guerreiro do Salão de Mitral, cujo clã caíra em desgraça séculos atrás, quando seus membros abandonaram os Battlehammer num momento de grande necessidade. Quando o Rei Bruenor marchou para reconquistar o Salão de Mitral, Lars e seu irmão alistaram-se no exército com o intuito de apagar a mancha no passado do clã. Hoje, o anão é um soldado obstinado, disposto a tudo para resgatar a glória dos Stoneshield.

Bem, essa é toda informação que consegui sobre eles, acho que será suficiente. Gostaria de poder enviar mais homens para reforçar os acampamentos da região, mas infelizmente não haverá mais reforços antes do inverno.

Rogo para que os deuses o guiem nessa árdua tarefa, capitão.


- Comandante Erik Silverblade, III Batalhão da Legião Argêntea
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Bem, pessoal, como esse é o 100º post do Rascunhos, aqui vai um pequeno bônus para os 1d6+2 leitores do blog: um mini-texto extra e um desenho feito pelo meu irmão. Espero que gostem.

***

- Senhor, um dos batedores está de volta.

O líder dos orcs, ao receber a notícia, logo se aproximou do goblin que voltara ao acampamento e disse:

- Onde estão os outros, goblin? O que aconteceu?

- E-estão m-mortos, senhor. Nós emboscamos um grupo de aventureiros, mas eles eram muito fortes, mataram todos os outros.

- E como VOCÊ sobreviveu?

- Er... eu... estava escondido, senhor; isso, escondido. Por isso eles não me viram.

- Malditos aventureiros! Eu os quero mortos. Procure Skruush, ele é nosso melhor desenhista. Quero um retrato-falado desse grupo de aventureiros.

O goblin sobrevivente passou horas descrevendo ao Skruush aqueles que atacaram e mataram os membros da patrulha a qual pertencera. Quando a ilustração ficou pronta, levou-a a seu líder e disse:

- Chefe, aqui está o desenho.

- Ótimo! Espalhem cartazes com essa imagem por todos os lados. Eu quero esses malditos aventureiros mortos! Depois que eu matá-los, eles pensarão duas vezes antes de atravessar o meu caminho.

- Mas, chefe, como eles vão pensar em qualquer coisa se estiverem mortos?

- Ah... cale-se! Apenas faça o que mandei!

30 de mai. de 2009

Conselho de Guerra

O clangor de aço reverberava pelo ar. Centenas de forjas estavam acesas, os martelos batiam e batiam como instrumentos de uma sinfonia demoníaca. Uma fumaça escura subia aos céus e fuligem cobria os rostos dos ferreiros. O cheiro de suor e cinzas impregnava a Cidadela. Estava quente, muito quente, como se um portão para os Nove Infernos tivesse sido aberto em meio àquelas montanhas geladas.

O rei caminhava pelas vielas da cidade, queria constatar pessoalmente o cumprimento de suas ordens. Muitos de seu próprio povo e mais centenas de escravos trabalhavam até a exaustão, muitas vezes sob chicotadas. Em alguns pontos, corpos mutilados eram exibidos para mostrar o destino daqueles que não executaram suas tarefas apropriadamente.

O sol começava a se esconder no oeste distante quando um mensageiro aproximou-se do rei e disse:

- Meu senhor, Lorog acaba de retornar à Cidadela.

- Ótimo. – respondeu Obould satisfeito – Traga-a até mim.

- Não será necessário, meu senhor. – disse uma voz perto deles – aqui estou.

Mesmo o rei Obould ainda se surpreendia com as aparições de Lorog, a negra. Ela era uma fêmea alta e corpulenta, mas se movimentava de forma silenciosa sob suas vestes escuras. Dotada de uma mente arguta e versada nas artes da feitiçaria, tornara-se a principal conselheira do rei e a líder espiritual do Forte da Flecha Negra.

- Que notícias traz de Scrauth? – perguntou abruptamente o rei.

- Lamento informar, meu senhor, mas seu filho reuniu os soldados que tinha e rumou para o sul, em direção ao Salão de Mitral.

- Insolente! – esbravejou Obould – Como ousa desobedecer minhas ordens!?

- As informações que obtive indicam que Scrauth havia descoberto um caminho secreto até o Salão de Mitral através da face leste das montanhas.

- Tolo, só vai conseguir a própria morte e a dos seus subordinados com essa atitude impensada.

- Meu senhor, – disse Lorog após um instante de silêncio – aceite meu conselho: ataque o Salão de Mitral pelo oeste. A investida de Scrauth não tem chance de tomar a cidade dos anões, mas pode prover a distração necessária para o senhor esmagar os desgraçados com sua força principal. Conceda-me não mais que 100 homens e eu serei capaz de proteger o Forte da Flecha Negra contra possíveis ataques das tribos do oeste.

Obould sorriu por um instante, depois olhou para a fêmea e respondeu:

- Não, Lorog. As tribos do oeste não são mais uma ameaça. Numath e os gigantes já lidaram com eles.

A fêmea ficou visivelmente surpresa com a notícia.

- Araug liderará o ataque ao Salão de Mitral – continuou Obould – e você irá com ele. Se meus filhos estão ansiosos em matar anões e pilhar seus tesouros, não posso negar isso a eles. Mas você proverá Araug com conselhos e feitiços.

- Como quiser, meu senhor.

- A queda de Bruenor e de sua cidade não passará despercebida. Logo Lua Argêntea mandará reforços, e eu estarei esperando.

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- Continuação desse aqui.

- Se a inspiração surgir, escreverei um pouco sobre cada um dos líderes orcs envolvidos na história. Ah, e talvez sobre os PJs também. =P

30 de mar. de 2009

O Missionário Mercenário

Tempus é o deus da guerra e ele favorece os bravos guerreiros de ambos os lados de uma batalha. Mas ele não aprecia derramamento de sangue gratuito, sua igreja ensina a sempre lutarmos pelo que acreditamos e, em Amn, não há crença maior que o dinheiro.

Garret não pôde deixar de sorrir diante das palavras do jovem sacerdote, mas abafou o riso e falou com um leve tom de desdém:

- E o que você tem a oferecer afinal?

Eu ofereço meus serviços como homem-de-armas e curandeiro para a sua companhia. Que os seus adversários sejam os meus e, com as bênçãos de Tempus, seus homens tornar-se-ão lutadores ainda mais fortes e destemidos. Juntos, propagaremos minha fé e multiplicaremos suas riquezas. Tudo por um preço - é claro.

O velho mercenário abriu um sorriso ainda mais largo e sincero, olhou o garoto dos pés à cabeça e respondeu em Thorass:

- Welcome to the Gold Vultures, boy.

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Thorass é o nome de um idioma antigo de Forgotten Realms do qual derivou o atual "comum". Em Amn, o Thorass é amplamente utilizado em documentos oficiais, negociações e contratos comerciais.

9 de jan. de 2009

O Sopro do Vento Escaldante

Os membros da seita estavam todos reunidos num antigo salão sob as ruínas de Memnom. O lugar lembrava uma arena, com altos assentos de pedra circundando uma pequena área, plana e baixa, no centro da câmara. A Irmandade do Vento Escaldante era um grupo constituído apenas por descendentes de gênios, os genasi. Seus membros estavam empenhados em preservar o conhecimento deixado pelos gênios e seus descendentes desde os tempos de Calim e Memnom. Além disso, o grupo oferecia apoio e proteção aos genasi que aceitavam sua natureza elemental.

Os líderes da seita, o Conselho dos Cinco, perfomavam um poderoso ritual no centro da estrutura. Entre eles, estava o genasi do fogo Khalir, um dos mais antigos membros do grupo e também um mago de considerável poder. Sua influência crescera nos últimos meses e fora ele quem convencera os demais a realizar a cerimônia.

Quando as últimas palavras da invocação foram recitadas, um brilho avermelhado surgiu entre eles e aos poucos tomou a forma de uma criatura humanóide. Pelo seu semblante e vestes, diria-se tratar-se de um distinto e altivo cavalheiro, mas as grandes asas de morcego que surgiam de suas costas e a textura escamosa de sua pele denunciavam sua natureza diabólica.

Khalir deu um passo em direção à criatura e pronunciou em voz alta:

- Ó, poderoso Kairon, advinho dos diabos, ouça nosso chamado.

- I REFUSE TO SPEAK IN THE LANGUAGE OF THE MORTALS – respondeu a criatura usando o idioma dos Nove Infernos.

O genasi do fogo percebeu o erro que havia cometido e dirigiu-se ao diabo em seu próprio idioma:

- Forgive us, mighty Kairon, we humbly require your help.

- WHY WOULD I EVEN LISTEN TO YOU, SERVANT OF THE ABYSS?

- I no longer worship the Demon Lords, great one. And I’m sure we can find a beneficial agreement for us all.

- WHAT DO YOU WANT FROM ME?

- We greatly desire to find the Calimemnom Crystal but powerful illusions developed by ancient elven magic prevent us from reach it. Only your great divination powers can discover its location.

- WHAT COULD YOU POSSIBLY OFFER ME?

- I know you are gathering an army for you Archduke. We offer you enough magical items and spell components to supply thousands of your wizard soldiers. Many of them cannot be found in Hell.

- I SEE YOUR POINT AND I AGREE WITH YOUR TERMS.

Kairon fechou os olhos e sussurou palavras ininteligíveis, conjurando um poderosíssmo feitiço de advinhação. Os membros da seita olhavam impressionados para o advinho durante os segundos que pareceram horas. Até que a criatura abriu os olhos e falou:

- POWERFUL IS THE MAGIC WHICH PROTECTS THE CRYSTAL. I DOUBT ANY POWER UNDER THE GODS CAN OVERCOME IT. BUT I KNOW A WAY TO FIND IT.

Khalir, claramente frustrado pelo fato do baatezu não ser capaz de achar o Cristal, considerou dispensá-lo de volta aos Nove Infernos. Mas a informação do diabo talvez fosse a única chance que ele teria de encontrar o artefato.

- I beg you, mighty Kairon, tell us how to find it.

- THERE IS A POWERFUL ARTIFACT INFUSED WITH GREAT DIVINATION POWERS CALLED THE EYE OF SAVRAS. IT ONCE BELONGED TO A ROYAL VIZIER FROM THE SHOON EMPIRE WHO DIED TRYING TO UNCOVER ITS MAGIC. THE EYE LIES UNDER THE RUINS OF OLD SHOONACH.

- We thank you, mighty Kairon, for the information. You might take your payment and return to the Nine Hells.

- I MUST WARN YOU THAT NONE OF YOU HAVE THE POWER TO PROPERLY USE THE EYE. IT WOULD BE FOOLISH TO TRY. BRING IT TO ME AND I WILL USE IT TO POINT YOU THE LOCATION OF THE CRYSTAL.

- We shall see, devil. We shall see.

5 de jan. de 2009

Era of Skyfire

Conta-se que a milênios atrás, quando estas terras eram cobertas de imensas florestas dominadas pelos elfos e as montanhas ocupadas pelos senhores anões, os humanos viviam rusticamente como nômades nas planícies e savanas do sul. Aquela era um época de paz, ameaçada apenas de tempos em tempos pelos gigantes e dragões. Mas as coisas mudaram com a chegada de Calim.

Calim era um nobre djinni, um poderoso gênio vindo do Plano Elemental do Ar, que comandava um imenso número de membros de sua espécie, além de escravos humanos e halflings. Em pouco tempo, ele conquistou uma grande área onde hoje é o sul de Calimshan, expulsando os dragões, gigantes e elfos da região. Estava formado o Califato de Calim.

Os 1000 anos que se sucederam foram relativamente pacíficos dentro dos domínios de Calim, à exceção de pequenos conflitos com os elfos e gigantes nas fronteiras. Até que chegaram os mais odiados inimigos dos djinn, os efreet. O Exército de Fogo, como era chamada a horda de efreet, liderado pelo Grande Paxá Memnom surgiu no norte da atual Calimshan. Nos anos que se seguiram, os gênios do fogo conquistaram muitas das terras que tinham pertencido aos elfos e anões, reduzindo florestas inteiras a cinzas e estabelecendo o Reino de Memnonnar.

Demorou 200 anos até começar a inevitável guerra entre Calim e Memnom, período que ficou conhecido como Era of Skyfire. Os exércitos dos gênios se enfrentaram durante séculos em grandes batalhas que destruíram colinas, florestas e montanhas. Ninguém sabe muito bem como a guerra acabou. Alguns dizem que Calim e Memnom se enfrentaram num duelo que durou 100 dias e 100 noites e acabou com a destruição de ambos e de tudo que havia num raio de vários quilômetros. Outros falam que os elfos, buscando vingança pela morte de seus semelhantes e pela destruição causada pelos gênios, realizaram um poderoso ritual que arrancou as almas dos dois de seus corpos e as aprisionou dentro de um cristal.

O que aconteceu de verdade talvez ninguém saiba. Mas as conseqüências desses eventos marcaram para sempre essas terras.

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Referências:

- Lands of Intrigue, 1997
- Empires of the Shinning Sea, 1998
- Forgotten Realms Campaign Setting, 2001
- Lost Empires of Faerûn, 2005

29 de nov. de 2008

A Herança de Obould

Cavada no sopé da montanha, poucos quilômetros ao sul do Forte da Flecha Negra, fica a guarnição do Anão Morto. Local de treinamento de soldados, forjaria de armas e construção de máquinas de guerra para o exército do Rei Obould Muitas Flechas. Nesse lugar, não é permitida a presença de fêmeas, mas nenhum dos soldados ousou protestar ou mesmo olhar duas vezes para a figura alta e de manto negro que perambulava pelos túneis do lugar.

A fama de Lorog, a negra, era bem conhecida pelos orcs daquela região. Dizia-se que era uma bruxa cruel que sentia prazer em aterrorizar os guerreiros do exército de Obould para testar sua lealdade. Aqueles a quem ela considerava indignos eram torturados e punidos com seus venenos e maldições.

Lorog deslizou pelo Salão de Armas até ficar a poucos metros de um corpulento guerreiro que estava vestindo uma armadura de placas. O orc, que pareceu não notar a presença da bruxa, exibia uma infinidade de cicatrizes ao longo do corpo, marcas de dezenas de batalhas. A fêmea permaneceu em silêncio, quando ele começou a calçar as botas, ela perguntou:

- Preparando-se para partir, soldado?

O macho a olhou sobre o ombro por um instante, voltou a atenção para as botas e respondeu:

- Foi meu pai que mandou você me espionar, bruxa?

- Talvez. Ou talvez eu tenha vindo por conta própria.

- Lacaios não têm vontade própria, ainda mais uma fêmea. - respondeu o guerreiro, agora calçando um par de manoplas.

- Tem razão. É por isso que você está aqui. Porque o seu pai ordenou e você acata suas ordens como uma fêmea obediente, não é, Scrauth?

Scrauth mal conseguiu disfarçar sua fúria ao embainhar bruscamente sua espada. Ele sabia, no entanto, que ameaçar Lorog era estupidez: ainda que conseguisse matá-la, ele seria severamente punido pelo seu pai, já que a bruxa era a principal conselheira do Rei Obould. Scrauth apenas segurou o elmo ao lado do corpo, virou-se para a fêmea e retorquiu em tom de ira incontida:

- O que você quer de mim afinal? Preciso partir logo.

- O Rei Obould está ficando velho, Scrauth. Muitos acham que ele não tem mais a força de antes, depois da queda da Cidadela Muitas Flechas. Alguém terá que substituí-lo mais cedo ou mais tarde.

- Quando ele fraquejar, eu estarei pronto para tomar o seu lugar! - retorquiu o guerreiro em tom desafiador.

- Mas você precisa se mexer, Scrauth. Seu irmão Brymoel já está se mexendo. Soube que ele rumou para a Passagem da Lança Partida mais ao sul e está procurando alguma coisa por lá.

- O quê? Mas ele foi mandado para o leste, para espionar aquela vila dos Uthgard!

- Ele é um sacerdote, um fiel seguidor de Gruumsh. E Grummsh às vezes concede visões aos seus servos mais dedicados. Há algo importante ao sul, Scrauth. Algo que faz a diferença para aquele que almeja se tornar o Rei Muitas Flechas.

- Hmmm... entendo. Mas você não ia preferir um clérigo de Grummsh como o novo Rei Obould? - perguntou o guerreiro.

- É preciso ser um veterano de batalha para sentar-se no Trono Muitas Flechas - respondeu a bruxa -, alguém capaz de comandar um exército e fazer seus súditos obedecerem. Brymoel é um acólito fervoroso, mas não tem a força necessária.

- Então você veio aqui para me ajudar a tomar o lugar de meu pai? Quer dizer que você, Lorog, está me oferecendo uma aliança?

- Talvez. Ou talvez seu pai tenha me mandado aqui para lhe espionar.

7 de ago. de 2008

O arauto

A pequena vila de Zay estava agitada, as pessoas andavam de um lado para o outro naquela tarde. O inverno se fora, e nas próximas semanas muitos produtos seriam comprados e vendidos, algumas caravanas já haviam passado pela vila e até o final da primavera várias outras tinham Zay no seu percurso. Muito havia a ser feito. Por isso, poucos notaram o pequeno halfling subir em um dos bancos da humilde praça da cidade antes de anunciar a plenos pulmões:

Ouçam todos! Ouçam todos! De acordo com o decreto de Lorde Llachior Blackthorn, Duque do Cabo Velen e Lorde Real do Comércio, a partir da próxima semana, as taxas de mercado sobem para 3 donsars ao dia. Atenção, mercadores! O não pagamento da taxa pode resultar na confiscação dos produtos e na cobrança de multas. A medida perdurará por todo período da Colheita e será usada para a contratação de mercenários visando a proteção das cidades e estradas.

Neeb Voz-da-manhã era o nome do pequeno. Ele era um arauto viajante, uma profissão que foi quase extinta durante o período de caos pelo qual o Reino passou. O pequeno Neeb viajava de cidade em cidade, de vila em vila, anunciando os novos decretos e comunicando noticias de longe e era assim que as pessoas comuns sabiam o que estava acontecendo em Tethyr e além.

Poucas pessoas em Zay deram atenção ao halfling, os que o observavam e o ouviam, faziam-no mais por curiosidade e davam-lhe pouca importância, mas Neeb já estava acostumado, na verdade prefiria ignorância à agressividade: alguns mercadores furiosos de Myratma tentaram espancá-lo certa vez quando anunciou aumento de impostos.

Ouçam! Ouçam! As cidades amnianas de Riatavin e Trailstone se rebelaram contra os Reis Mercadores e declararam lealdade à Coroa de Tethyr. Embaixadores foram enviados de Darromar para negociar com Amn, mas os Reis Mercadores não querem negociar, declararam que Tethyr deveria se manter longe das duas cidades. Será isso o prelúdio de uma nova guerra?

Os transeuntes continuavam passando como se alheios ao discurso do halfling, mas a maioria apenas fingia que não ouvira as últimas palavras do arauto. Guerra era uma palavra que eles não queriam ouvir, não depois de terem passados tantos anos a mercê dos tiranos de Ithmong. Teriam sido os dois últimos anos apenas uma ilusão de tempos melhores?

O arauto apenas desceu do banco, acendeu seu cachimbo e partiu para a próxima vila.

28 de jul. de 2008

Disciplina

Ragorth caminhou a passos hesitantes em direção à pequena gruta. Olhou para o céu poente, certo de que não teria uma agradável noite de sono, e entrou. A gruta era ocupada por seu senhor, alguém a quem Ragorth temia, respeitava e admirava incondicionalmente. Não havia nenhuma iluminação dentro, mas nenhum dos dois precisava de luz para enxergar. Assim que avistou o dono da gruta em seu assento de pedra, Ragorth se postou de joelhos.

- Traz-me notícias, tenente? - a voz reverberou na escuridão da gruta.

- Si-sim, meu senhor.

- Assumo que os seus homens já lidaram com os gnolls, estou certo?

- Sim, meu senhor. Os gnolls não serão mais problema.

- Não, os gnolls não, mas algo mais será, não é mesmo?

A insinuação atingiu o tenente Ragorth como uma flecha, por um instante ele sentiu uma vertigem se apoderá de seus sentidos, mas sabia que mesmo trazendo más notícias ele não podia hesitar, não podia demonstrar fraqueza. Demorou apenas um instante para se recobrar e responder:

- Tivemos problemas, meu senhor. Um grupo de viajantes, certamente mercenários ou aventureiros, atravessou a região e matou meia dúzia dos nossos batedores. Eles rumaram para...

- Deixe-me ver se entendi direito: esses viajantes passaram por nossos domínios, mataram alguns de seus homens e saíram ilesos. Foi isso que aconteceu, tenente? - a calma inabalável em suas palavras apenas deixava Ragorth mais temeroso.

- T-temo que sim, meu senhor.

- Algum de seus homens foi levado como prisioneiro?

- Não, meu senhor.

A figura levantou subitamente de seu assento e avançou com sua mão pesada no pescoço do tenente. Uma manopla de aço apertou-lhe a garganta com uma força sobre-humana. Ragorth tentava inutilmente respirar quando foi arremessado ao chão. Depois, uma pesada bota metálica começou a atingir violenta e sucessivamente o seu rosto, quebrando o seu nariz e cobrindo os seus olhos de sangue. O tenente já não conseguia mais ver o mundo ao seu redor. Quando achou que a dor não poderia piorar, ouviu o seu senhor tirar o chicote preso ao cinto.

As chibatas vieram fortes e contínuas. Para Ragorth, parecia que, a cada golpe, uma dúzia de lanças perfurava a sua pele. Depois do que pareceu uma eternidade sob açoite, as chicotadas cessaram. O tenente não acreditou que estava vivo. Seu corpo estava em brasas e a dor mal permitia que ele se mexesse. Seu senhor ofereceu a mão para ajudá-lo a levantar.

- Venha, irmão, erga-se. - falou imponente a figura ajudando Ragorth a ficar de pé.

O tenente estendeu o braço e fez um esforço imenso para conseguir levantar.

- O sacerdote Farruk pode ajudá-lo com seus ferimentos... amanhã e apenas amanhã.

Ragorth fez um leve aceno com a cabeça. Queria procurar o sacerdote imediatamente, mas sabia que desobedecer o seu senhor traria consequências bem piores do que as chicotadas que sofreu hoje.

- Tome, levo-o. - falou a Ragorth entregando-lhe o chicote - Seus homens precisam de disciplina.

6 de jul. de 2008

A Floresta do Amanhecer

A Floresta do Amanhecer nem sempre foi conhecida por esse nome. Por muitas anos ela foi chamada de Floresta do Ninho da Aranha e era o lar de numerosas aranhas gigantes que faziam a mata ser temida e evitada. Os habitantes das aldeias próximas sabiam o quão perigoso era o local e por isso evitavam se aproximar da floresta, raramente tendo problemas com as aranhas que a habitavam. Esse quadro, contudo, mudou drasticamente quinze anos atrás, quando pequenos grupos de aranhas começaram a aparecer fora dos limites da mata, atacando o gado e os viajantes da Estrada do Norte.

As terríveis notícias chegaram aos ouvidos de Adennon e dos millikars. O arqui-ranger já andara muito pelas regiões selvagens em torno dos Vales e desconfiava que havia algo não-natural naquela floresta, mas ele nunca conseguira adentrar profundamente na mata, por ela ser muito fechada e as aranhas serem bastante hostis. Dessa vez, contudo, ele não estaria sozinho: mais de trinta millikars decidiram ajudá-lo e vários caçadores e aldeões da região se juntaram ao grupo.

Foram quase três meses de patrulhas e incursões, de ataques e fugas, uma verdadeira guerra foi travada entre homens e aracnídeos. Adennon e os outros descobriram que as criaturas eram comandadas por uma aranha ainda maior que as demais, dotada de grande inteligência e perversidade, Hasgeron era o seu nome.

Uma luta terrível foi travada entre os rangers e a criatura. Vários millikars morreram nesse combate, mas os sobreviventes lutavam com tamanha ferocidade que o número de aliados parecia aumentar, e não diminuir, a cada companheiro caído. O senhor das aranhas, no fim, foi derrotado.

E foi com os primeiros raios da aurora que os sobreviventes chegaram à aldeia mais próxima às bordas da floresta. Eles traziam consigo o corpo de Hasgeron como símbolo de sua vitória. Sua carcaça fétida foi queimada pelos camponeses e enterrada sob uma pilha de pedras e maldições. Sem o comando da malévola criatura, as poucas aranhas restantes fugiram para as montanhas que cercavam a floresta.

Vários aldeões e quase metade dos millikars tombaram no conflito. As mortes foram lamentadas e a vitória comemorada, alegria e tristeza andaram lado-a-lado naqueles que ficaram conhecidos como "os dias do vinho e das lágrimas". Adennon e outros rangers decidiram se fixar na floresta e ajudá-la a se recuperar dos danos causados pela influência de Hasgeron. As vilas próximas estavam seguras novamente.

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Inspirografia:

- Tolkien, J.R.R.
- Forgotten Realms

30 de jun. de 2008

Rebirth - Part 1(2ª versão)

...fechei os olhos com força, tentando apagar da mente a imagem do mundo à minha volta, mas não adiantou. Senti o vento frio da madrugada tocar o meu rosto, o cheiro do mar a invadir minhas narinas e o som das ondas distantes entrando em meus ouvidos... Mesmo de olhos fechados, eu sabia exatamente onde estava a lua - branca e pálida - a testemunhar meu último ato. E quando as sensações pareceram ser apenas lembranças, eu julguei que estava pronto.

- Socorro! Socorro!

O grito me trouxe de volta à realidade. A voz era de mulher e o tom, eu conhecia bem: era de completo desespero. Normalmente, eu deixaria que os gritos ecoassem até a voz se extinguir - e sentiria um mórbido prazer quando o silêncio finalmente chegasse. Dessa vez foi diferente: um força inexplicável me impulsionou na direção da voz - eu precisava ajudá-la.

Pouco depois, eu a encontrei: estava maltrapilha, acuada, rastejando em um beco escuro. Um homem imenso cheirando a bebida caminhava em sua direção como um caçador diante da presa. Ela soluçava e implorava-lhe para parar, mas isso não o deteu. O brutamontes provavelmente a espancaria, violaria o seu corpo e quando estivesse satisfeito a descartaria como um brinquedo. Eu não deixaria que ele fizesse isso.

Bastava uma punhalada no pescoço e ele cairia morto. Ao vê-lo bater na mulher, contudo, o sangue ferveu em minhas veias e nublou minha visão: num piscar de olhos eu estava atrás dele com meu punhal entrando profundamente em suas costas. Deliciei-me ao sentir o sangue dele escorrendo e ao ouvir o seu berro de dor ecoar. No entanto, eu o havia subestimado: o desgraçado virou-se para trás rapidamente e acertou meu rosto com uma clava enorme.

A força do golpe quase me tirou a consciência: minha vista escureceu e minhas pernas fraquejaram, mas eu me recusei cair. Vi o maldito retirar o punhal das costas como se fosse um mero espinho incômodo e jogá-lo no chão. Eu estava tonto, cansado e desarmado, mas ainda assim eu o provoquei a me atacar. Ele segurou a clava com as duas mãos e avançou em minha direção.

Golpe após golpe, evitei seus ataques: ele era lento e estava bêbado. O idiota mordera a isca. Mas à medida que o tempo passava, meu corpo ficava mais pesado e o desgraçado não parecia se cansar.

Me encostei na parede quando minha respiração começou a ofegar, eu não sabia se poderia desviar de mais um ataque. Meu adversário tomou distância e segurou a arma com ainda mais força, apenas para soltá-la em seguida e cair de bruços no chão. Não pude deixar de sorrir quando constatei que o veneno finalmente fizera efeito.

Deixei o cansaço tomar o meu corpo e minha consciência se esvair. Mas antes da escuridão me engolir eu tive a impressão de ouvir o eco de uma voz trêmula e distante:

- O-obrig-gada.

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Inspirografia:

-Forgotten Realms
-Salvatore, R.A.

21 de mar. de 2008

Facing Death: face to face

Lenneth não temia a morte. Já a vira de perto tantas vezes que não se impressionava mais. Seus pais morreram quando ele tinha apenas cinco anos, vítimas de uma praga que assolava a região. Passou, então, a viver com os seus tios numa vila ao sul da Espinha do Mundo.

Junto com Lenneth e seus tios, vivera sua irmã mais velha, Laya. O que o garoto não sabia na época era que a moça era uma filha bastarda de seu pai e esse era um dos motivos pelos quais os seus tios maltratavam tanto a garota. Pouco após o garoto completar treze anos, Laya fugira da vila e Lenneth nunca mais a viu. Seus tios diziam que ela tinha fugido para o leste e que se o inverno não a matasse, os orcs o fariam. Ou, com muita sorte, ela chegaria viva em Lua Argêntea - onde seria uma mendiga pelo resto da vida.

Um ano se passara desde a fuga da irmã quando a vila foi repentinamente atacada por um batalhão de orcs. Os invasores puseram fogo a casa de seus tios, mas o garoto conseguira escapar; do lado de fora, Lenneth pôde ouvir os gritos dos dois enquanto as chamas consumiam lentamente sua casa e suas vidas.

O garoto aprendera cedo que a morte existia em todo lugar e em muitas formas e que era inútil fugir dela. Ele decidiu, então, dominá-la. Tirou a vida de inúmeros indivíduos, até se tornar íntimo com a morte - manipulando-a com a facilidade que um artesão usa os instrumentos de seu ofício.

Lenneth não temia a morte. Até aquela noite.

Não foi difícil para o assassino escalar até uma das janelas da Casa que havia sido deixada aberta. A mulher que dormia nesse primeiro quarto parecia bastante gorda e o seu ronco podia ser ouvido a uma distância de muitos passos - Lenneth se perguntou se algum homem pagaria um cobre sequer por uma noite com ela.

Deixando qualquer distração de lado, o assassino esgueirou-se até a porta e chegou silenciosamente ao corredor. De acordo com as informações que coletara, o seu alvo dormia num quarto nesse mesmo andar. Caminhou por alguns minutos envolto por um silêncio mortal até encontrar o que procurava:

- Quarto 27. - sussurrou Lenneth abrindo um sorriso malévolo.

A porta rangeu de leve quando o assassino a abriu, por um segundo ele pensou que poderia ter sido descoberto, mas tranquilizou-se quando o único som que ouviu foi o respirar suave de sua vítima. O pequeno quarto estava fracamente iluminado por uma vela que a mulher deixara no criado ao lado da cama. A luz era suficiente para Lenneth notar o quão voluptuosa era a forma sob o lençol. Teve vontade de descobri-la, mas logo percebeu que era insensato fazê-lo, poderia acordá-la ou pior: hesitar em matá-la. Decidiu que teria tempo para observá-la quando estivesse morta.

Lenneth levou o punhal acima dos seios palpitantes da mulher e com um golpe rápido e preciso pefurou o lençol e atingiu o seu coração. Pouco pôde se ouvir além de um gemido abafado. Logo o sangue ensopara as cobertas. O assassino limpou casualmente o seu punhal em um lenço que trouxera consigo - estava satisfeito por ela ter morrido sem gritar, como fazia a maioria das mulheres diante da morte. Não pôde, contudo, conter sua curiosidade e puxou abruptamente os panos que a escondiam.

A mulher possuía, de fato, um corpo exuberante, agraciado por curvas generosas que devem ter despertado a cobiça de muitos homens, mas Lenneth ficara hipnotizado por seus olhos - que se arregalaram diante da morte. O tempo pouco mudara aqueles olhos e aquele rosto nos últimos dez anos.

- N-não pode ser... - a expressão do assassino era de completo pavor.

O cadáver diante de Lenneth pertencia a sua irmã, Laya. Uma explosão de lembranças e perguntas ecoou na mente do assassino. A única pessoa pela qual ele nutrira algum afeto fora morta por suas próprias mãos. Aturdido pelo acontecimento, Lenneth só voltou a si quando olhou para a mão direita do corpo e viu um anel de ouro em um dos dedos. Qualquer dúvida sobre o que fazer evaporou imediatamente de sua mente, só houve espaço para um sentimento, um único desejo em Lenneth naquele momento: vingança.

Três dias depois acharam o corpo do mercador e de dois de seus guarda-costas em um dos aposentos da estalagem Galeão Dourado. Os guardas apresentavam apenas marcas de golpes precisos na garganta. O cadáver do mercador, contudo, estava num estado bem diferente: havia inúmeras punhaladas e queimaduras dos pés à cabeça. Além disso, em uma de suas cavidades oculares estava inserido um anel de ouro onde antes deveria haver um de seus olhos.

...

Lenneth encarava seu reflexo borrado na água do mar. Havia algo inexplicável que o puxava para baixo, de encontro ao seu reflexo, de encontro ao seu fim. Virou-se para o lado, onde a sua máscara estava jogada e depois olhou para a roupa que vestia - completamente manchada de sangue - e suspirou. Tomou o punhal em suas mãos e passou alguns minutos observando-o atentamente. "Quantas vidas foram encerradas por essa lâmina?" - ponderou.

- Mais uma vida, ela precisa tirar. - sussurrou o assassino.

Segurou o cabo com as duas mãos e apontou o punhal contra o seu peito, estremecendo ao sentir a lâmina fria tocar a sua pele. Olhou para o céu e viu a lua rodeada por um cardume de estrelas. Olhou para o mar uma última vez e viu uma constelação de peixes se afastar de sua imagem borrada. Fechou os olhos, respirou fundo e segurou a arma com mais força. O fim chegara para o assassino.

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Inspirografia:

-Forgotten Realms
-Salvatore, R.A.

12 de mar. de 2008

Murdercraft

Lenneth observava cada movimento da cidade abaixo, mesmo contra o vento frio da madrugada, seus olhos raramente piscavam. Ele sabia que muita coisa acontecia nas ruas de Luskan após o pôr-do-sol. Sobre o teto daquele prédio abandonado, ele podia testemunhar vários fatos que em outros lugares atrairiam a atenção das autoridades e seriam punidos pela lei, mas naquela cidade eram coisas do dia-a-dia.

A torre na qual Lenneth se alojara já fora um dia um templo dedicado a algum deus da honra e justiça. Fácil imaginar porque o prédio estava agora abandonado e em ruínas: Luskan é uma terra infértil para esse tipo de fé. Graças as lendas de que as almas dos antigos sacerdotes vagam pelo local, a torre só é frequentada por aqueles que tem negócios escusos para tratar. E para algo ser considerado escuso nessa cidade... deve-se imaginar o pior.

Transeuntes e templos mal-assombrados não preocupavam Lenneth. Sua atenção esteve voltada durante toda à noite para uma grande mansão à sua frente, a Casa dos Prazeres. Era um dos prédios mais antigos da cidade e também um dos mais protegidos. Lenneth não deixou de sorrir quando pensou sobre a ironia do templo e o bordéu ficarem tão próximos e do primeiro ter ruído enquanto o segundo floresceu. Madame Alessandra era sem dúvida a mulher mais poderosa de Luskan, administrando o seu negócio com mão de ferro e tendo o respeito de todos os lordes piratas da cidade.

Lenneth desceu a torre quando viu a última chama se apagar dentro da mansão e os guardas se afastarem. O serviço deles havia acabado por aquela noite, mas o daquele homem esguio e soturno estava apenas começando. Sua vítima estava lá dentro, sem a menor idéia do que estava por vir.

O homem de roupas escuras e máscara de pano era um assassino de aluguel e seu alvo atualmente era uma das cortesãs da Casa. O mercador que o contratou mencionou algo sobre "a porca suja precisar morrer" ou "lavar minha honra", mas Lenneth nunca prestava atenção nessas partes da conversa. Só tinha duas coisas que ele queria saber: quem e quanto.

- É uma das mulheres de Madame Alessandra - disse o mercador - A desgraçada roubou um anel de família da última vez que estive lá. Quero que você me traga de volta.

O assassino ouviu tudo impassível e aparentemente sem ser afetado pelas palavras de seu contratante. Num piscar de olhos, contudo, ele levara seu punhal à garganta do homem, muito antes de seus guarda-costas conseguirem desembainhar suas espadas.

- Você está zombando de mim, velho? - disse Lenneth furioso - Acha que eu sou algum batedor de carteira? Pareço um assaltante de beco para você?

Lenneth puxou violentamente os cabelos do velho com uma das mãos e deslizou levemente o punhal pelo pescoço dele com a outra, fazendo um corte superficial. Os guardas-costas do mercador haviam empunhado suas espadas, mas estavam aturdidos demais com a cena para tentarem qualquer reação.

- M-me, me solte - balbuciou o velho miserável - e-eu pago adiantado, e-eu pago o dobro...

- Mande os seus lacaios soltarem suas armas e você viverá para fecharmos o acordo. - disse o assassino calmamente.

- F-façam o que ele pediu - murmurou o velho.

- Mas, senhor... - hesitou um dos guardas.

- Soltem suas espadas! - gritou o mercador.

Os guardas obedeceram imediatamente. Antes mesmo de se ouvir o som do metal das espadas caindo no chão, Lenneth libertara abruptamente o velho, empurrando-o contra uma parede. Os guardas vieram ao auxílio de seu patrão enquanto ele, ofegante, se recuperava do susto.

- Invadir o território de Madame Alessandra envolve um risco alto - disse o assassino - Eu quero o triplo: duzentas moedas pela morte da mulher, duzentas moedas pelo anel e mais duzentas pelo insulto que me fez.

O mercador sabia do alto risco de lidar com Lenneth, mas o susto que levou não deixou dúvidas sobre a eficiência do assassino. Sabia que escolhera o homem certo para o serviço.

- Combinado. - respondeu o mercador já recuperado - Vou pegar o seu adiantamento - disse fazendo menção de deixar o aposento.

- Não. - respondeu friamente o assassino. - Não aceito ouro por alguém vivo.

O mercador ficou muito surpreso com a resposta.

- Nos encontraremos em quatro dias - continuou Lenneth - Alugue o terceiro quarto da estalagem Galeão Dourado. Esteja só e com o pagamento. Se estiver faltando uma só moeda, o seu coração será o próximo a provar o gosto do meu punhal.

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Inspirografia:

-Forgotten Realms
-Salvatore, R.A.

24 de fev. de 2008

A Profecia da Chama Eterna

Uma vez mais a Chama Branca será acesa
O fogo que tudo queima será o prelúdio de uma nova era
A terra, a água e o ar se curvarão diante da chama alva
Suas labaredas queimarão as trevas, o caos e mesmo o fogo impuro
Quando isso acontecer, nascerá Alashtah,
O fogo que não se apaga, a chama imortal
O mundo, então, arderá
E mesmo as sombras derreterão
Terá surgido um novo tempo,
A Era do Fogo

5 de nov. de 2007

A Queda do Dragão

O dragão finalmente cai. Seu corpo é arrastado até a superfície da lagoa, como se as próprias águas de seu covil rejeitassem sua presença maligna. Instantes de silêncio cobrem o local, interrompidos apenas pela respiração ofegante dos heróis. De repente, um raio de luz parece atravessar a rocha sólida e chega ao lugar. Ele anuncia: o inverno chegou ao fim. De toda Faerûn, é ali - em meio a escuridão traiçoeira e entre fungos e musgos - que desabrocha a primeira flor da primavera. Suas pétalas brancas irradiam uma beleza incomparável, como se todos os deuses bondosos tivessem sorrido naquele exato momento e sussurrassem aos heróis: "Bom trabalho".

São com essas palavras que essa história será contada - em prosa e em verso - durante muitos anos. "A Queda do Dragão" alguns chamarão, outros de "A Libertação dos Picos do Trovão" e por muitos outros nomes ela será conhecida. Muitas versões surgirão, mas esse trecho o tempo pouco mudará. Até que séculos tenham se passado e a história vire lenda, a lenda vire mito e o mito se dissolva na memória dos mais velhos...


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*Esse texto narra uma cena importante da campanha que mestro em Forgotten Realms.

*Depois de meses espalhando terror e tirania entre as vilas de bárbaros que habitam os Picos do Trovão, o imperador dragão Mgnorthrond é finalmente derrotado por um grupo de heróis. Mas isso é apenas um trecho de uma história bem maior, que está escrita numa linguagem secreta em pergaminhos antigos...

2 de out. de 2007

A Ascensão do Tirano

Ouçam todos! Vocês agora têm um novo líder. Alguém a quem vocês devem temer mais do que a morte... Eu, Fzoul Chembryl, sumo sacerdote de Bane e Alto Lorde dos Zhentarim!

Oooooh

Manshoon? Manshoon era um fraco. Sob sua liderança, a Rede Negra perdeu influência, adquiriu mais inimigos, sofreu disputas internas... decaiu em poder. Ele era um covarde. Tinha medo de tomar decisões perigosas e fazer alianças vantajosas. Seu excesso de cautela nos custou muito e, por fim, custou sua própria vida. Eu o ofereci como sacrifício para os elfos negros, como sinal de meu interesse em forjar uma aliança.

Oooooh

Isso mesmo, os drows... Manshoon não confiava neles... Bah! Quem precisa de confiança para formar uma aliança? O medo os impedirá de nos trair. Porque com as bençãos de Bane e sob o meu comando, vocês podem ser mais terríveis que os elfos negros! Desfaçam-se do medo. Transformem-no em ódio. Porque apenas o ódio pode esmagar nossos opositores e trazer-nos a glória.

Não temam nossos inimigos. Não temam nossos aliados. A partir de hoje, vocês devem temer apenas a mim! Porque eu posso fazer vocês sofrerem muito mais do que qualquer outro. Posso provocar dor e desespero além de suas imaginações.

Sob o meu comando, deixaremos de ser apenas "a Rede Negra", seremos um Império: o mais Poderoso dos Reinos, nosso exército será o maior exército a marchar sobre Faerûn.

A noite está chegando, meus servos. Afiem suas espadas e fermentem o seu ódio. Em breve, os campos verdes do oeste se cobrirão de vermelho com o sangue de nossos inimigos.



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- Discurso de Fzoul Chembryl aos seus súditos na Fortaleza Negra.

30 de set. de 2007

Rede de Intrigas - Parte Dois

O brilho brando de Istrahlia contrastava ferozmente com a pele negra dos oito drows que se encontravam na caverna. Os elfos negros estavam sentados em confortáveis assentos ao redor de uma grande mesa de pedra. Eles discutiam assuntos menores e lançavam proteções mágicas no local enquanto esperavam o batedor voltar.

Kelnozz, um espião talentoso e espadachim mortífero, supostamente estava verificando se alguém poderia ter seguido os vhaeraunitas até o local do conclave. Os nove eram os maiores servos do deus Vhaeraun, uma das poucas divindades drow que ousava se opôr à posição dominante de Lolth; sem dúvida, as sacerdotisas da Rainha Aranha adorariam descobrir onde eles eles estavam reunidas e assassiná-los em nome de sua deusa.

Não demorou muito tempo até Kelnozz aparecer à entrada da caverna e anunciar:

- O humano está aqui.

Os outros drows se entreolharam confusos.

- Mande-o entrar, Kelnozz. - ordenou Malaggar, o mais velho e respeitado dos nove.

Poucos instantes depois, os conselheiros ouviram passos de botas pesadas e algo sendo arrastado pela rocha fria. Não demorou a surgir uma figura na gruta arrastando algo grande e pesado pelo chão. O homem era alto e exibia grande vigor físico, possuía um bigode espesso e longos cabelos ruivos. Ele vestia uma armadura decorada com temas de morte e carregava uma maça pesada presa ao cinto. Seus olhos brilhavam com astúcia.

- Mas quem é... - começou a questionar um dos elfos negros. O recém-chegado, no entanto, não permitiu que o drow terminasse sua pergunta:

- Fzoul Chembryl. Sumo sacerdote de Bane e Alto Lorde dos Zhentarim. - falou o recém-chegado, demonstrando claro domínio do idioma dos drows.

Os vhaeraunitas ficaram em silêncio por alguns instantes, surpresos com a firmeza com que o humano se apresentou diante deles.

- Líder dos Zhentarim? - questionou o mago Vyltar em um tom levemente irônico - Achei que esse título pertencesse a seu aliado, o mago Manshoon.

Fzoul, então, ergueu o prisioneiro puxando-o pelos cabelos negros. O homem - que aparentava cerca de 30 anos - estava num estado miserável. Seu outrora elegante robe negro estava rasgado em vários pontos e manchado de sangue seco. Um de seus olhos estava completamente fechado devido a hematomas. Filetes de sangue ainda escorriam de seu nariz e de sua boca. Todo o seu corpo parecia ter sido vítima de inúmeras pancadas. Seus braços estavam presos às costas por correntes.

- Manshoon? - falou o sacerdote de Bane. Todo seu. - concluiu Fzoul jogando o prisioneiro, que caiu de cara no chão próximo, ao mago drow.

O homem estremeceu ao cair e soltou um guincho esquisito de dor. Com enorme esforço, pôs-se de joelhos e tossiu mais sangue. Vyltar observou por alguns segundos o rosto sujo e desfigurado do miserável aos seus pés e então perguntou desconfiado:

- Ora, todos sabem que Manshoon é um mago poderoso. Se este homem diante de mim era mesmo o líder dos Zhentarim, por que ele não tentou usar um de seus feitiços para fugir de você, clérigo de Bane? Afinal, você veio trazendo ele por um longo caminho até chegar a Istrahlia e ele nem mesmo está amordaçado.

Fzoul sorriu malevolamente ao ouvir a pergunta e então respondeu calmamente:

- Não era necessário. Ele não pode falar.

E dizendo essas palavras, o sacerdote de Bane retirou um pequeno objeto de um saco de couro sujo que estava preso ao seu cinto. Ergueu a mão para que todos pudessem ver o que parecia ser um pequeno músculo ensaguentado.

Incrédulo, o mago drow olhou de Fzoul ao prisioneiro e, então, abriu a boca do miserável aos seus pés e constatou que ele não tinha mais língua.

O sacerdote drow Mallagar, que esteve observando a cena com um sorriso nos lábios, finalmente levantou de sua poltrona esculpida na pedra e disse:

- Já basta, Ryltar! Eu não teria convidado Fzoul para o nosso conclave se ele não fosse quem ele clama ser. Tenho plena confiança nas habilidades de meus informantes na superfície.

- Estou ansioso para ouvir o que tem a me falar, drow. - disse Fzoul.

Nós, vhaeraunitas, há muito tempo temos interesse em abandonar o subterrâneo e conquistar nosso próprios territórios na superfície - deixando as sacerdotisas vadias de Lolth se destruírem em suas guerras estúpidas. Existe uma região em especial na superfície que poderíamos chamar de lar mais do que qualquer caverna de Underdark, pois de lá veio o nosso povo. Lá, sobre as cinzas dos reinos élficos de outrora, onde hoje cresce a "Floresta da Fronteira" - como vocês a chamam - lá, pretendemos contruir nosso reino.

Fzoul sorriu levemente ao ouvir o sacerdote drow revelar a região que pretendia conquistar.

Sabemos, contudo, que a região está sob os olhos cobiçosos dos Zhentarim. Como nunca foi nosso interesse lutar contra a Fortaleza Negra, tentei convencer Manshoon de que tínhamos mais a ganhar como aliados do que como inimigos. Mas esse tolo e aquele discípulo dele, Sememon, recusaram.

- E agora que o comando da Rede Negra mudou de mãos, você resolveu tentar novamente uma aliança com os Zhentarim - concluiu Fzoul.

- Exatamente - respondeu Mallagar -. E pelo gentil símbolo de boa vontade que você nos trouxe - falou o sacerdote apontando pra Manshoon -... acredito que esteja mais suscetível ao diálogo do que o seu antecessor.

- Não tenha dúvida, amigo - respondeu o sacerdote de Bane -. Posso em poucos dias mobilizar um grande exército a partir da Fortaleza Negra e ajudá-los a conquistar a região da Floresta da Fronteira. Mas, o que vocês me ofereceriam em troca?

Mallagar encarou Fzoul por alguns segundos - um leve sorriso se esboçava em seus lábios - e então disse serenamente:

- Cormyr.

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*Como fica claro pelo título, é a continuação de "Rede de Intrigas - Parte um" (veja aqui), post que escrevi a quase um ano e nunca tinha conseguido fazer a continuação. Não acho que a parte dois tenha ficado muito legal, mas eu precisava escrevê-la para que se possa entender a "parte 3" - que aliás já está escrita a muito tempo. Juntos, esses três textos explicam parte do plot de uma campanha de D&D que eu comecei a mestrar, mas não deu certo. =\

*Quanto ao layout: estamos temporariamente voltando às origens. =]

18 de jul. de 2007

Fugindo do Inferno

Os passos ecoavam ruidosamente por longos metros. Ela sabia que o barulho poderia atrair dezenas de ameaças naqueles túneis, mas nenhum perigo poderia ser maior do que aquele do qual estava fugindo. Fazia horas que corria sem parar. A fadiga ameaçara roubar-lhe a consciência mais de uma vez, mas ela resistira até aquele instante.

As passadas pararam abruptamente. A fugitiva encontrara uma pequena gruta, havia alguma água lá dentro. Bebeu um pouco, mas ela logo foi tomada pelo cansaço. Engolido pela escuridão, seu corpo caiu sem consciência na rocha fria, restando apenas um silêncio mortal. Não verificou se a água era envenenada ou se o lugar era seguro. Mas não faria diferença: não há lugar seguro em Underdark.

Sob a superfície, existe uma imensa rede túneis que se estende indefinidamente. Preenchida por sombras mais escuras que a noite. Neste lugar - onde a escuridão é quase tangível -, o perigo espreita em cada canto. Isto é Underdark. Para as criaturas da superfície, este lugar pode ser o inferno sob a terra. As criaturas subterrâneas o chamam apenas de... lar.

Milhares de escravos vivem na cidade drow de Menzoberranzan . Os elfos negros da cidade costumam realizar incursões à superfície onde saqueam e matam os humanos que encontram, mas também trazem alguns prisioneiros para serem vendidos como escravos. Foi assim que a camponesa Eleen tornou-se propriedade da Casa Kenafin.

Maltratada e molestada pelo filho mais velho da Casa, ela viveu os anos mais amargos de sua vida na cidade subterrânea dos elfos negros, sua dor era suavizada apenas pelas orações que prestava ao Senhor da Manhã. Pouco mais de um ano após sua captura, ela deu a luz à meio-drow Elisha. A menina tornou-se tudo para a pobre mulher - que dedicou os próximos anos tentando fazer a vida de sua filha menos miserável do que a sua própria.

Os meio-drows não têm qualquer aceitação na sociedade dos elfos negros, são considerados inferiores assim como qualquer não-drow. Uma filha de escrava, então, não seria nada mais do que uma escrava também. Desde pequena, Elisha foi maltratada e castigada, mas demonstrou-se mais forte e resistente que uma criança normal, por isso foi mandada para trabalhos braçais ainda na infância.

Foi um milagre a garota ter sobrevivido por tantos anos - "Crianças não dão bons escravos, mas são excelentes sacrifícios" - os elfos negros costumam dizer. O amor incondicional de sua mãe foi a principal razão para ela ter se mantido viva. Mas outro motivo foi o interesse que o filho mais novo da Casa Kenafin tinha pela menina. Ele não se importava nem um pouco com ela, ao contrário, era um garoto cruel que se deliciava em maltratar a "cadela mestiça". Essa fixação fez o menino intervir mais de uma vez para que ela não fosse descartada.

Quando sua mãe morreu, Elisha ainda não era adulta, mas também não era mais uma criança. Ela perdera a única coisa boa de sua vida, a única coisa boa naquele lugar amaldiçoado. Já havia decidido: fugiria de qualquer maneira. A oportunidade veio durante uma batalha entre Casas.

São muito comuns os conflitos entre Casas Nobres de Menzoberranzan. Elas conspiram e destroem umas às outras para conseguir o favor de Lolth - a impiedosa deusa Aranha. Embora Casas rivais possam passar anos na expectativa de um embate, as batalhas propriamente ditas costumam durar pouco. Quando o palácio da Casa Kenafin foi atacado pela Casa Vandree, Elisha viu sua chance de fuga.

Um feitiço lançado por magos da Casa Vandree resultou num explosão mágica que destruiu parte da estrutura onde os escravos eram mantidos. Quando viu o imenso buraco na parede, a meio-drow não pensou duas vezes: fugiu o mais rápido que pôde - aproveitando-se do caos causado pela batalha. Sua herança drow ajudou a disfarçar sua condição de escrava fugitiva - permitindo-lhe chegar até os portões da cidade. Mas ela percebeu que estava sendo seguida - e então, correu como nunca havia corrido em toda sua vida...


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*E eis a origem de Elisha. Eu, particularmente, não apreciei muito esse texto. Ele parece mais um relato do que um texto literário. Está pouco épico para o meu gosto. Mas, eu precisava documentar a história dela. E, bem, ainda há muito mais a ser escrito.

*Passei bem uns 20 dias só tentando bolar um título legal para esse texto. Na falta de algo melhor, vai esse mesmo. Thiago, sem piadas infames sobre o título, ok?

*Mais sobre Lolth e os drows vocês podem ler aqui.

*Mais sobre Elisha vocês podem ler aqui.

10 de abr. de 2007

Noite na floresta

Anoitecera na floresta. O céu tornara-se um manto escuro adornado por muitos pontos brilhantes. A lua resplandecia grandiosa, era uma imensa pérola que flutuava majestosamente no céu noturno. Aquela era uma confortável noite de primavera. Uma brisa cálida passeava por entre as árvores cumprimentando seus habitantes como um sopro maternal. Era difícil acreditar que a algumas semanas atrás um vento gelado dominara aquela mata.

Hansi estava deitado sobre a grama, à margem de um riacho. Rynlon, ao seu lado, saboreava a carne de uma lebre suculenta. O sentinela observava as estrelas, ele sabia o nome de muitas delas. Naquele exato momento apreciava a constelação do hipogrifo. Aquela visão trazia-lhe lembranças. Lembranças agradáveis de um passado distante. Canções ecoavam em sua mente, os mais belos sons que já ouvira: o cântico das sacerdotisas de Sehanine Moonbow[1].

Apesar da atmosfera que o envolvia, o coração do ranger estava preocupado. Recentemente, ele descobrira que batedores orcs vagavam pela floresta. Algo inadmissível. Não entendia porque o arqui-ranger Adennon não organizara grupos de caça para exterminá-los quando soube da notícia. Ao invés disso, o líder dos millikars[2] apenas aumentara o número de patrulhas na borda ocidental da floresta. Vários dos sentinelas mais jovens ficaram descontentes com a decisão, mas nenhum deles se sentiu mais frustrado do que Hansi.

Um uivo alto ecoou pela noite. Rynlon se levantou abruptamente e começou a caminhar apreensivo. O sentinela não entendeu porque o animal ficara daquele jeito: sempre houve lobos naquela floresta e não era de se espantar que eles uivassem naquela noite de lua cheia. Tentou acalmar o cão, mas não obteve sucesso. Alguns minutos depois, o cachorro começou a ladrar em direção à margem oposta do riacho. Hansi espremeu os olhos para aquele lado e demorou para enxergar alguma coisa. Por fim, avistou uma forma saindo de trás das árvores.

Era, de fato, um lobo, mas havia algo de estranho nele. Sua pelagem parecia tão escura quanto as sombras da noite. O lupino caminhou até a beira do córrego e parou. Olhou na direção de Rynlon - que parara de ladrar - e, em seguida encarou Hansi. Havia um brilho nos olhos do lobo, o sentinela desconfiou que o animal o estava analisando. Passaram-se alguns segundos até ele voltar pelo mesmo caminho de onde viera. O ranger estava com o arco na mão, mas não viu motivos para disparar contra o animal, deixou-o partir. Demorou quase uma hora para Rynlon se tranquilizar. Isso preocupou o patrulheiro, que não dormiu bem naquela noite.

Veio a aurora, e com ela o canto de muitos pássaros. O seu cão já estava acordado quando Hansi se levantou. O meio-elfo juntou suas coisas e foi atrás de Adennon. O arqui-ranger morava numa pequena cabana de madeira e palha numa clareira da floresta. Era nesse lugar que os millikars haviam se reunido no dia anterior. A porta se abriu antes que o sentinela pudesse bater. Um homem velho - mas vigoroso - surgiu diante dele e o saudou com um sorriso:

- Olá, Hansi. Eu queria mesmo falar com você. Entre.

A cabana tinha uma mobília muito simples. Pouco mais do que uma pequena mesa de madeira, alguns bancos e uma cama de palha. Mas as paredes eram densamente adornadas. E Hansi achou aqueles adornos mais interessantes do que quaisquer pinturas que pudessem enfeitar a casa do mais rico dos nobres. Havia meia dúzia de arcos, um par de bestas e mais de dez adagas e espadas leves. Nenhuma arma era igual à outra, elas diferiam em tamanho, forma ou no material de que eram feitas. O sentinela desconfiou que cada uma tinha uma história diferente pra contar
também.

Assim que Hansi sentou-se num banco, Adennon perguntou:

- Algo o aflige, meu jovem?

- Ah... sim. Na noite passada, vi um animal bastante estranho. Um lobo de pelagem muito escura. Ele tinha um olhar esquisito, como se estivesse me julgando. Rynlon pareceu muito desconfortável na presença dele.

- Hmm... Um worg, talvez. Essas criaturas não habitam nossa floresta. Mas sei que há um bom número delas nas montanhas do oeste. Não são lobos normais. São predadores astutos e vis.

- Lembrarei dessas palavras caso encontre um deles novamente.

- É bem possível que isso aconteça. Pois quero que você continue patrulhando a borda oeste de nossa mata.

Hansi ficou supreso com essa palavras. Porque era exatamente a ala ocidental da floresta que ele gostaria de patrulhar.

- Eu... irei.

- Mas não irá sozinho.

Mais uma vez, o meio-elfo ficou surpreso. Sabia que o arqui-ranger estava mandando os patrulheiroso andar em pequenos grupos, mas Hansi sempre vagara sozinho pela floresta, não esperava ter que andar com alguém além de Rynlon.

Absorto em seus pensamentos, o patrulheiro não percebera a chegada de uma figura à entrada da cabana. O estranho homem vestia um peitoral de couro simples, usava uma capa e um capuz. Trazia uma espada leve de lâmina curvada presa ao cinto e o rosto estava coberto por uma estranha máscara de pano azul desbotada
.

- Ah, esse é Tolkki. Ele o acompanhará nas patrulhas.

Longe dali, além dos limites da floresta, uma pequena gruta se abre aos pés das montanhas. Uma figura canina - recém-chegada - narra sua incursão na floresta enquanto uma mão de coloração esverdeada acaricia o seu pelo negro. Quando o animal termina o relato, uma voz imponente se propaga pelo local:

- Bom trabalho, meu amigo. Bom trabalho.


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[1] Sehanine Moonbow é a deusa élfica dos mistérios, do céu, da lua e das estrelas. Seus servos atuam como conselheiros espirituais, realizam funerais e velam pelos mortos.

[2] Millikars, são os guardas de Mielikki, deusa cultuada por rangers, fadas e outras criaturas das florestas.

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Este post é o segundo sobre Hansi, o sentinela. Espero ainda escrever bastante sobre esse personagem. Pra quem não leu o primeiro, ou quiser reler, veja aqui.

18 de dez. de 2006

A promessa da N´Tel´Quess

Era noite alta quando Elisha se ajoelhou diante de uma árvore pálida numa mata do norte. Uma brisa fria soprava do leste, fazendo as folhas farfalharem. Apoiada firmemente em sua espada, ela fechou os olhos e começou a murmurar para a noite.

É a ti que me dirijo nessa hora, mãe. Perdoe-me se nunca aprendi a rezar ao Senhor da Manhã. É difícil ter essa fé quando se vive num mundo sem sol. É a ti que rezo, minha mãe. Mesmo eu sendo o fruto da mais amarga lembrança, me criaste com todo amor e todas as lágrimas que só uma mãe de verdade pode dar. A ti, minha mãe, agradeço. A ti, minha mãe, eu oro. A ti, minha mãe, minha deusa.

Perdi a ti, perdi Johan, perdi toda família que um dia já tive e perdi o mais próximo que já tive de um lar. Dá-me forças para resistir, dá-me forças para sobreviver e dá-me forças para... me vingar. Pois prometo que vingarei tua morte e a de Johan. Minha lâmina se banhará no sangue dos culpados, nem que minha própria vida se perca para que eu cumpra essa promessa.


Uma lágrima ardente desceu pelo rosto da jovem enquanto ela se colocava de pé. O vento esvoaçava seus cabelos brancos quando ela começou a andar pela floresta. Caminhava sem povo, sem lar e sem deus rumo ao seu destino...

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Os elfos referem-se a si mesmos como TelQuessir, o que significa "povo". Os não-elfos são considerados N´Tel´Quess, ou "não-pessoas". Eles tratam os N´Tel´Quess com respeito, como se fossem um hóspede incômodo. Já os drows consideram todos que não façam parte de sua própria raça como N´Tel´Quess, incluindo as outras sub-raças élficas, assassinando ou escravizando todos aqueles que pertencem a este grupo.

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*Apresento-lhes Elisha, a meio-drow, personagem que tá na gaveta a um tempão,
mas existem rumores que ela vai se libertar em breve... =D
*Perdoem o vocabulário limitado dela, ok? Ela é uma guerreira.

PS: Pra quem usar o termo "café com leite" vai ter retaliação em Star Wars...

15 de out. de 2006

Rede de Intrigas - Parte Um

A milhas abaixo da superfície, uma caverna de rochas cristalinas se abre em meio à escuridão ininterrupta do subterrâneo. O lugar resplandece de suave beleza luminosa. Um ar de enigma circula pelo local e um eco de mistério se propaga através de suas formações rochosas.

A caverna tem nome: Istrahlia. Era considerado um local sagrado para os gnomos subterrâneos[1], onde eles prestavam homenagens e realizavam cerimônias a Callarduran[2] - o Senhor da Rochas. Por séculos, os pequenos utilizaram a caverna como um refúgio físico e espiritual; mas o lugar acabou sendo tomado e os gnomos expulsos por seus mais terríveis inimigos: os drows.

Os drows um dia habitaram a superfície, mas - ao contrário dos outros elfos - eles possuíam o coração negro como a noite. Punidos por seus crimes, os elfos negros foram banidos das florestas. Fugiram para a escuridão do subterrâneo, onde lutaram por várias gerações até conquistar seus territórios sob a terra, firmando-se como a mais temida raça de Underdark.

Istrahlia foi escolhida para sediar uma importante reunião. Elfos negros vindos de todas as direções, de cavernas mais fundas e mais rasas, foram convocados para este encontro. Eles fazem parte da minoria dentre os drows que se opõe à posição dominante de Lolth[3] - a Rainha Aranha. Eles são os Tentáculos de Vhaeraun[4].

O mesmo lago de águas quentes que esculpiu a caverna a milênios atrás; hoje, transporta os convidados para a reunião. Um a um, eles chegam ansiosos e soturnos ao local demarcado. E, embora os vhaeraunitas somem nove, dez convidados comparecem à caverna para o conclave.


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[1] Também chamados de svirfneblins, os gnomos subterrâneos constituem uma das muitas raças que habita os corredores escuros de Underdark.

[2] Callarduran é o principal deus cultuado pelos svirfneblins. Uma divindade protetora com uma seita bem organizada, sempre atenta às ameaças do subterrâneo, especialmente os drows.

[3] Lolth é a líder do panteão drow, uma matriarca cruel e ciumenta que não admite rivais. Suas sacerdotisas ocupam as posições mais altas nas cidades dos elfos negros e estão sempre envolvidas em tramas umas contra as outras.

[4] Vhaeraun é um deus cultuado principalmente por drows machos, ladinos, espiões e assassinos. Seu culto sobrevive nas sombras, já que seus sacerdotes são implacavelmente caçados pelos servos de Lolth quando identificados.