Os passos ecoavam ruidosamente por longos metros. Ela sabia que o barulho poderia atrair dezenas de ameaças naqueles túneis, mas nenhum perigo poderia ser maior do que aquele do qual estava fugindo. Fazia horas que corria sem parar. A fadiga ameaçara roubar-lhe a consciência mais de uma vez, mas ela resistira até aquele instante.
As passadas pararam abruptamente. A fugitiva encontrara uma pequena gruta, havia alguma água lá dentro. Bebeu um pouco, mas ela logo foi tomada pelo cansaço. Engolido pela escuridão, seu corpo caiu sem consciência na rocha fria, restando apenas um silêncio mortal. Não verificou se a água era envenenada ou se o lugar era seguro. Mas não faria diferença: não há lugar seguro em Underdark.
Sob a superfície, existe uma imensa rede túneis que se estende indefinidamente. Preenchida por sombras mais escuras que a noite. Neste lugar - onde a escuridão é quase tangível -, o perigo espreita em cada canto. Isto é Underdark. Para as criaturas da superfície, este lugar pode ser o inferno sob a terra. As criaturas subterrâneas o chamam apenas de... lar.
Milhares de escravos vivem na cidade drow de Menzoberranzan . Os elfos negros da cidade costumam realizar incursões à superfície onde saqueam e matam os humanos que encontram, mas também trazem alguns prisioneiros para serem vendidos como escravos. Foi assim que a camponesa Eleen tornou-se propriedade da Casa Kenafin.
Maltratada e molestada pelo filho mais velho da Casa, ela viveu os anos mais amargos de sua vida na cidade subterrânea dos elfos negros, sua dor era suavizada apenas pelas orações que prestava ao Senhor da Manhã. Pouco mais de um ano após sua captura, ela deu a luz à meio-drow Elisha. A menina tornou-se tudo para a pobre mulher - que dedicou os próximos anos tentando fazer a vida de sua filha menos miserável do que a sua própria.
Os meio-drows não têm qualquer aceitação na sociedade dos elfos negros, são considerados inferiores assim como qualquer não-drow. Uma filha de escrava, então, não seria nada mais do que uma escrava também. Desde pequena, Elisha foi maltratada e castigada, mas demonstrou-se mais forte e resistente que uma criança normal, por isso foi mandada para trabalhos braçais ainda na infância.
Foi um milagre a garota ter sobrevivido por tantos anos - "Crianças não dão bons escravos, mas são excelentes sacrifícios" - os elfos negros costumam dizer. O amor incondicional de sua mãe foi a principal razão para ela ter se mantido viva. Mas outro motivo foi o interesse que o filho mais novo da Casa Kenafin tinha pela menina. Ele não se importava nem um pouco com ela, ao contrário, era um garoto cruel que se deliciava em maltratar a "cadela mestiça". Essa fixação fez o menino intervir mais de uma vez para que ela não fosse descartada.
Quando sua mãe morreu, Elisha ainda não era adulta, mas também não era mais uma criança. Ela perdera a única coisa boa de sua vida, a única coisa boa naquele lugar amaldiçoado. Já havia decidido: fugiria de qualquer maneira. A oportunidade veio durante uma batalha entre Casas.
São muito comuns os conflitos entre Casas Nobres de Menzoberranzan. Elas conspiram e destroem umas às outras para conseguir o favor de Lolth - a impiedosa deusa Aranha. Embora Casas rivais possam passar anos na expectativa de um embate, as batalhas propriamente ditas costumam durar pouco. Quando o palácio da Casa Kenafin foi atacado pela Casa Vandree, Elisha viu sua chance de fuga.
Um feitiço lançado por magos da Casa Vandree resultou num explosão mágica que destruiu parte da estrutura onde os escravos eram mantidos. Quando viu o imenso buraco na parede, a meio-drow não pensou duas vezes: fugiu o mais rápido que pôde - aproveitando-se do caos causado pela batalha. Sua herança drow ajudou a disfarçar sua condição de escrava fugitiva - permitindo-lhe chegar até os portões da cidade. Mas ela percebeu que estava sendo seguida - e então, correu como nunca havia corrido em toda sua vida...
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*E eis a origem de Elisha. Eu, particularmente, não apreciei muito esse texto. Ele parece mais um relato do que um texto literário. Está pouco épico para o meu gosto. Mas, eu precisava documentar a história dela. E, bem, ainda há muito mais a ser escrito.
*Passei bem uns 20 dias só tentando bolar um título legal para esse texto. Na falta de algo melhor, vai esse mesmo. Thiago, sem piadas infames sobre o título, ok?
*Mais sobre Lolth e os drows vocês podem ler aqui.
*Mais sobre Elisha vocês podem ler aqui.
3 comentários:
Acho que já vi um filme com esse nome... :D
Um épico não precisa começar épico para ser épico. :P
Eu gostei do texto: o flashback veio no momento adequado, a narrativa prende, tá legal. Só acho que falta um pouco mais de ação - mas como prelúdio para algo maior está sim. Talvez no início do texto pudesse ter tido uma descrição melhor de como se dava a fuga no momento, ou algo assim.
^^
Depois do que Allana falou, não tenho mais nada a acrescentar não. É isso mesmo.
Essa fuga me lembrou um bocado Jack Sparrow.
ah, eu ouvi rumores que depois que Elisha fugiu de Underdark, ela conheceu um bardo humano que criou um título pra ela que a define perfeitamente... =D
E qual é a piada infame do título que eu não saquei?
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