Cristoph levantou-se cedo naquela manhã. Chegara a Faruel na noite anterior após uma viagem longa e difícil, mas sua jornada ainda não tivera um fim. Ele precisava descansar, por isso alugara um quarto naquela estalagem. Uma noite de sono o faria recobrar as energias necessárias para continuar o seu caminho.
Ele já era acostumado a acordar muito cedo, a cozinheira da estalagem sem dúvida estaria dormindo ainda, o cavaleiro precisaria aguardar para fazer seu dejejum. Ele soube logo como aproveitar esse tempo "ocioso". Abriu o armário do quarto e retirou sua armadura. Muito mais do que pesadas peças de aço, ela foi sua única companheira durante muitos dias. Quanta coisa haviam enfrentado juntos: chuva, vento, poeira, sol, lama. Ela já não parecia tão imponente quanto antes, mas o cavaleiro daria um jeito - a qualquer custo.
Como todos ainda estavam dormindo, ele sentiu-se mal por não ter pedido permissão à estalajadeira. Mas não restava-lhe outra escolha, um cavaleiro não podia andar com uma armadura naquele estado. Tomando emprestado um balde, um esfregão, algumas vassouras e um espanador, ele dedicou-se ao árduo labor.
Utilizou todas as forças de que dispunha para remover as nefastas manchas que corrompiam a face metálica de sua companheira. De tempos em tempos, sua testa cobria-se de suor e o cavaleiro a enxugava com a coberta da cama. E quando suas forças ameaçaram abandonar-lhe, ele suplicou aos deuses que o libertassem da fadiga para que pudesse terminar sua nobre tarefa. Os deuses o atenderam. O homem não descansou até a armadura refletir intensamente o brilho do sol nascente.
O cavaleiro tomou cada peça quase com um afago e vestiu-se cerimonialmente. Ela resplandecia mais bela do que nunca. Dirigiu-se à sacada do quarto e contemplou a pequena cidade que acordava com o sol da manhã. Os pássaros piavam e voavam felizes lá fora, pareciam reconhecer que um guerreiro abençoado pelos deuses estava diante deles. Possivelmente emocionada diante dessa figura exaltada, uma ave que voava próxima teve seu intestino afrouxado e eliminou uma quantidade generosa de escremento. O projétil caiu rapidamente atingindo um ombro de armadura. Foram mais duas horas de labor intenso...
Após o dejejum, Cristoph rumou à taverna da cidade. Buscava informações sobre a próxima etapa de sua jornada e este seria o lugar mais adequado para obtê-las. Havia muitas pessoas na rua, Faruel já estava acordada àquela altura. Desconhecendo o local, o cavaleiro pedira direções a um garoto apressado e mal vestido que acabara de esbarrar nele. O humilde rapaz generosamente apontou a direção da taverna. Seguindo suas instruções, o nobre cavaleiro logo chegou a um largo prédio com uma entrada de porta dupla. O lugar exalava um inegável cheiro de cerveja.
Antes de entrar, Cristoph presenciou uma cena impressionante. As portas do lugar se abriram violentamente e um homem foi arremessado para fora, percorrendo uma longa distância no ar até cair de cara no chão da rua. O responsável pelo arremesso foi um indivíduo truculento que vestia um avental muito sujo. Ele esfregou as mãos - num inconfundível gesto de trabalho recém terminado - e voltou para dentro.
Havia pouca gente na taverna. Elas bebiam e conversavam animadamente. Mas quando o estranho homem entrou, quase todas as mesas silenciaram. As pessoas, então, passaram a lançar olhares inquisitivos para o indivíduo esquisito que usava uma armadura de placas excessivamente polida. Um pequeno homem - em particular - observava o recém-chegado com bastante interesse.
Confiante de que sua aparência causara uma boa impressão às pessoas do local, Cristoph foi direto ao balcão. Dirigiu-se ao enorme homem do outro lado em voz alta e em tom exaltado:
- Nobre taverneiro, em nome de Vossa Majestade, o Nobilíssimo Rei Theodoric Décimo Sétimo, solicito que me forneça uma fração mínima de vosso vasto conhecimento para que possa me guiar em minha jor...
Cristoph demorou para notar que o homem lançava um olhar de poucos amigos para ele. Na verdade, um terrível dragão prestes a cuspir jatos de fogo pareceria mais amistoso do que aquele taverneiro. Receoso de que pudesse ofender o nobre homem, o cavaleiro ajustou sua voz a um tom mais ameno - quase infantil:
- Não, assim... er... se não for incomodar, sabe, o senhor não poderia me ajudar...? Não precisa ser agooora, tou vendo que a taverna tá muito cheia... É porque eu sou um cavaleiro e estou numa missão realmente importante, não que ser taverneiro também não seja importante, é só que...
- Você vai beber alguma coisa, ou não vai? - perguntou o imenso homem lançando um olhar penetrante.
- Beber? A-ah, sim, claro. Vou beber. Eu quero uma... uma... como se chama mesmo? Uma cê... veja!
Em poucos segundos, o taverneiro depositou violentamente uma caneca espumante sobre o balcão - o que fez a superfície de madeira oscilar por alguns instantes.
- São duas pratas.
- Ah, sim, claro... Onde foi que eu botei meu saco de moedas...? Tenho certeza de que prendi ao meu cinto antes de sair da estalagem... Será que eu fui rou...
O impaciente taverneiro já estava cerrando os punhos quando uma pequena mão apareceu entre os dois, deixando três moedas em cima do balcão.
- Perdoe o meu amigo, ele é um pouco esquecido. - começou a falar um homem jovem de cabelos encaracolados - Eu pago a bebida dele: duas moedas pela cerveja e mais uma pelo incômodo. - concluiu o rapaz com um sorriso jovial.
- Ah, desculpe, mas eu não posso aceitar. Eu nem conheço...
- Eu sou Snick Dedos-Leves - falou o rapaz fazendo uma reverência. - E o senhor?
- Eu... não sei se posso confiar em você.
O rapaz respondeu com firmeza:
- Ouça, amigo: se você não pode confiar em quem paga a sua bebida, então não pode confiar em ninguém.
[Continua]
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*Esse conto é o segundo sobre Cristoph, o cavaleiro . Quero dedicá-lo ao mizera do meu irmão que está aniversariando nesta segunda-feira.
*Parabéns, mizera!
*Confiram a primeira parte da história aqui.
*Bom, agora Cristoph já é um personagem oficial do Rascunhos igualando a marca de Hansi e Elisha, com dois posts cada. xD. Espero que eu consiga estar sempre escrevendo sobre cada um deles.
3 comentários:
A narrativa tá legal, o personagem também, mas o diálogo final tá fraco. Você podia ter desenvolvido um pouco mais que fosse para fechar melhor, já que o negócio é continuado.
E outra coisa mais pessoal, por ter sido esse o conto inscrito no concurso do membrana: justamente, é um pedaço de algo maior. O ideal seria que ele tivesse um fim em si, que não "cortasse" futuras continuações, mas que não parasse no nada. Você constrói, constrói, e não chega a lugar nenhum. Desculpa a sinceridade.
E no conto de Nicole, o cenário era para parecer mesmo com Constantine XD
cara... soh agora tive tempo de ler... mas, gostei bastante! nao conhecia este seu talento de bardo! =)
tipo eu vi uns blogs que eram tipo livros, e cada post era um capítulo. Pq vc num faz um??
flws!
www.blogogov.blogspot.com
Meu amor n eh um mzr n ¬¬ Ele eh linduuuuuuuuuuuuuuu xD
=****
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