30 de set. de 2007

Rede de Intrigas - Parte Dois

O brilho brando de Istrahlia contrastava ferozmente com a pele negra dos oito drows que se encontravam na caverna. Os elfos negros estavam sentados em confortáveis assentos ao redor de uma grande mesa de pedra. Eles discutiam assuntos menores e lançavam proteções mágicas no local enquanto esperavam o batedor voltar.

Kelnozz, um espião talentoso e espadachim mortífero, supostamente estava verificando se alguém poderia ter seguido os vhaeraunitas até o local do conclave. Os nove eram os maiores servos do deus Vhaeraun, uma das poucas divindades drow que ousava se opôr à posição dominante de Lolth; sem dúvida, as sacerdotisas da Rainha Aranha adorariam descobrir onde eles eles estavam reunidas e assassiná-los em nome de sua deusa.

Não demorou muito tempo até Kelnozz aparecer à entrada da caverna e anunciar:

- O humano está aqui.

Os outros drows se entreolharam confusos.

- Mande-o entrar, Kelnozz. - ordenou Malaggar, o mais velho e respeitado dos nove.

Poucos instantes depois, os conselheiros ouviram passos de botas pesadas e algo sendo arrastado pela rocha fria. Não demorou a surgir uma figura na gruta arrastando algo grande e pesado pelo chão. O homem era alto e exibia grande vigor físico, possuía um bigode espesso e longos cabelos ruivos. Ele vestia uma armadura decorada com temas de morte e carregava uma maça pesada presa ao cinto. Seus olhos brilhavam com astúcia.

- Mas quem é... - começou a questionar um dos elfos negros. O recém-chegado, no entanto, não permitiu que o drow terminasse sua pergunta:

- Fzoul Chembryl. Sumo sacerdote de Bane e Alto Lorde dos Zhentarim. - falou o recém-chegado, demonstrando claro domínio do idioma dos drows.

Os vhaeraunitas ficaram em silêncio por alguns instantes, surpresos com a firmeza com que o humano se apresentou diante deles.

- Líder dos Zhentarim? - questionou o mago Vyltar em um tom levemente irônico - Achei que esse título pertencesse a seu aliado, o mago Manshoon.

Fzoul, então, ergueu o prisioneiro puxando-o pelos cabelos negros. O homem - que aparentava cerca de 30 anos - estava num estado miserável. Seu outrora elegante robe negro estava rasgado em vários pontos e manchado de sangue seco. Um de seus olhos estava completamente fechado devido a hematomas. Filetes de sangue ainda escorriam de seu nariz e de sua boca. Todo o seu corpo parecia ter sido vítima de inúmeras pancadas. Seus braços estavam presos às costas por correntes.

- Manshoon? - falou o sacerdote de Bane. Todo seu. - concluiu Fzoul jogando o prisioneiro, que caiu de cara no chão próximo, ao mago drow.

O homem estremeceu ao cair e soltou um guincho esquisito de dor. Com enorme esforço, pôs-se de joelhos e tossiu mais sangue. Vyltar observou por alguns segundos o rosto sujo e desfigurado do miserável aos seus pés e então perguntou desconfiado:

- Ora, todos sabem que Manshoon é um mago poderoso. Se este homem diante de mim era mesmo o líder dos Zhentarim, por que ele não tentou usar um de seus feitiços para fugir de você, clérigo de Bane? Afinal, você veio trazendo ele por um longo caminho até chegar a Istrahlia e ele nem mesmo está amordaçado.

Fzoul sorriu malevolamente ao ouvir a pergunta e então respondeu calmamente:

- Não era necessário. Ele não pode falar.

E dizendo essas palavras, o sacerdote de Bane retirou um pequeno objeto de um saco de couro sujo que estava preso ao seu cinto. Ergueu a mão para que todos pudessem ver o que parecia ser um pequeno músculo ensaguentado.

Incrédulo, o mago drow olhou de Fzoul ao prisioneiro e, então, abriu a boca do miserável aos seus pés e constatou que ele não tinha mais língua.

O sacerdote drow Mallagar, que esteve observando a cena com um sorriso nos lábios, finalmente levantou de sua poltrona esculpida na pedra e disse:

- Já basta, Ryltar! Eu não teria convidado Fzoul para o nosso conclave se ele não fosse quem ele clama ser. Tenho plena confiança nas habilidades de meus informantes na superfície.

- Estou ansioso para ouvir o que tem a me falar, drow. - disse Fzoul.

Nós, vhaeraunitas, há muito tempo temos interesse em abandonar o subterrâneo e conquistar nosso próprios territórios na superfície - deixando as sacerdotisas vadias de Lolth se destruírem em suas guerras estúpidas. Existe uma região em especial na superfície que poderíamos chamar de lar mais do que qualquer caverna de Underdark, pois de lá veio o nosso povo. Lá, sobre as cinzas dos reinos élficos de outrora, onde hoje cresce a "Floresta da Fronteira" - como vocês a chamam - lá, pretendemos contruir nosso reino.

Fzoul sorriu levemente ao ouvir o sacerdote drow revelar a região que pretendia conquistar.

Sabemos, contudo, que a região está sob os olhos cobiçosos dos Zhentarim. Como nunca foi nosso interesse lutar contra a Fortaleza Negra, tentei convencer Manshoon de que tínhamos mais a ganhar como aliados do que como inimigos. Mas esse tolo e aquele discípulo dele, Sememon, recusaram.

- E agora que o comando da Rede Negra mudou de mãos, você resolveu tentar novamente uma aliança com os Zhentarim - concluiu Fzoul.

- Exatamente - respondeu Mallagar -. E pelo gentil símbolo de boa vontade que você nos trouxe - falou o sacerdote apontando pra Manshoon -... acredito que esteja mais suscetível ao diálogo do que o seu antecessor.

- Não tenha dúvida, amigo - respondeu o sacerdote de Bane -. Posso em poucos dias mobilizar um grande exército a partir da Fortaleza Negra e ajudá-los a conquistar a região da Floresta da Fronteira. Mas, o que vocês me ofereceriam em troca?

Mallagar encarou Fzoul por alguns segundos - um leve sorriso se esboçava em seus lábios - e então disse serenamente:

- Cormyr.

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*Como fica claro pelo título, é a continuação de "Rede de Intrigas - Parte um" (veja aqui), post que escrevi a quase um ano e nunca tinha conseguido fazer a continuação. Não acho que a parte dois tenha ficado muito legal, mas eu precisava escrevê-la para que se possa entender a "parte 3" - que aliás já está escrita a muito tempo. Juntos, esses três textos explicam parte do plot de uma campanha de D&D que eu comecei a mestrar, mas não deu certo. =\

*Quanto ao layout: estamos temporariamente voltando às origens. =]

5 comentários:

Allana disse...

Italo, eu não li nem vou ler agora. Isso porque eu não lembro do texto antecessor! XD Peço, então, encarecidamente que você vá no BrainsStorm e deixe os links com todas as partes. ^^

(Admita, foi uma boa maneira de fazer propaganda. ^^)

Allana disse...

Hm, quando eu tiver tempo, estou pensando em uns projetos. Me lembre de falar com você a respeito. =*

Eduardo Costa disse...

Caralho!

Como eu já te disse, eu adorei esse plot. Mesmo. Tanto que eu queria jogá-lo também!

E, eu adoro reuniões onde grandes planos são discutidos. É um pré-climax de algo épico.

É muito foda.

NeoTaylor disse...

qualquer semelhança com uma certa campanha de D&D q alguém está mestrando é mera coincidência, certo?

=P

PS. vc podia ter colocado um link pra parte um neh?

Italo disse...

Valeu pelo toque, senhor neotaylor. O link para a 1ª parte foi incluído no post. =]