12 de mar. de 2008

Murdercraft

Lenneth observava cada movimento da cidade abaixo, mesmo contra o vento frio da madrugada, seus olhos raramente piscavam. Ele sabia que muita coisa acontecia nas ruas de Luskan após o pôr-do-sol. Sobre o teto daquele prédio abandonado, ele podia testemunhar vários fatos que em outros lugares atrairiam a atenção das autoridades e seriam punidos pela lei, mas naquela cidade eram coisas do dia-a-dia.

A torre na qual Lenneth se alojara já fora um dia um templo dedicado a algum deus da honra e justiça. Fácil imaginar porque o prédio estava agora abandonado e em ruínas: Luskan é uma terra infértil para esse tipo de fé. Graças as lendas de que as almas dos antigos sacerdotes vagam pelo local, a torre só é frequentada por aqueles que tem negócios escusos para tratar. E para algo ser considerado escuso nessa cidade... deve-se imaginar o pior.

Transeuntes e templos mal-assombrados não preocupavam Lenneth. Sua atenção esteve voltada durante toda à noite para uma grande mansão à sua frente, a Casa dos Prazeres. Era um dos prédios mais antigos da cidade e também um dos mais protegidos. Lenneth não deixou de sorrir quando pensou sobre a ironia do templo e o bordéu ficarem tão próximos e do primeiro ter ruído enquanto o segundo floresceu. Madame Alessandra era sem dúvida a mulher mais poderosa de Luskan, administrando o seu negócio com mão de ferro e tendo o respeito de todos os lordes piratas da cidade.

Lenneth desceu a torre quando viu a última chama se apagar dentro da mansão e os guardas se afastarem. O serviço deles havia acabado por aquela noite, mas o daquele homem esguio e soturno estava apenas começando. Sua vítima estava lá dentro, sem a menor idéia do que estava por vir.

O homem de roupas escuras e máscara de pano era um assassino de aluguel e seu alvo atualmente era uma das cortesãs da Casa. O mercador que o contratou mencionou algo sobre "a porca suja precisar morrer" ou "lavar minha honra", mas Lenneth nunca prestava atenção nessas partes da conversa. Só tinha duas coisas que ele queria saber: quem e quanto.

- É uma das mulheres de Madame Alessandra - disse o mercador - A desgraçada roubou um anel de família da última vez que estive lá. Quero que você me traga de volta.

O assassino ouviu tudo impassível e aparentemente sem ser afetado pelas palavras de seu contratante. Num piscar de olhos, contudo, ele levara seu punhal à garganta do homem, muito antes de seus guarda-costas conseguirem desembainhar suas espadas.

- Você está zombando de mim, velho? - disse Lenneth furioso - Acha que eu sou algum batedor de carteira? Pareço um assaltante de beco para você?

Lenneth puxou violentamente os cabelos do velho com uma das mãos e deslizou levemente o punhal pelo pescoço dele com a outra, fazendo um corte superficial. Os guardas-costas do mercador haviam empunhado suas espadas, mas estavam aturdidos demais com a cena para tentarem qualquer reação.

- M-me, me solte - balbuciou o velho miserável - e-eu pago adiantado, e-eu pago o dobro...

- Mande os seus lacaios soltarem suas armas e você viverá para fecharmos o acordo. - disse o assassino calmamente.

- F-façam o que ele pediu - murmurou o velho.

- Mas, senhor... - hesitou um dos guardas.

- Soltem suas espadas! - gritou o mercador.

Os guardas obedeceram imediatamente. Antes mesmo de se ouvir o som do metal das espadas caindo no chão, Lenneth libertara abruptamente o velho, empurrando-o contra uma parede. Os guardas vieram ao auxílio de seu patrão enquanto ele, ofegante, se recuperava do susto.

- Invadir o território de Madame Alessandra envolve um risco alto - disse o assassino - Eu quero o triplo: duzentas moedas pela morte da mulher, duzentas moedas pelo anel e mais duzentas pelo insulto que me fez.

O mercador sabia do alto risco de lidar com Lenneth, mas o susto que levou não deixou dúvidas sobre a eficiência do assassino. Sabia que escolhera o homem certo para o serviço.

- Combinado. - respondeu o mercador já recuperado - Vou pegar o seu adiantamento - disse fazendo menção de deixar o aposento.

- Não. - respondeu friamente o assassino. - Não aceito ouro por alguém vivo.

O mercador ficou muito surpreso com a resposta.

- Nos encontraremos em quatro dias - continuou Lenneth - Alugue o terceiro quarto da estalagem Galeão Dourado. Esteja só e com o pagamento. Se estiver faltando uma só moeda, o seu coração será o próximo a provar o gosto do meu punhal.

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Inspirografia:

-Forgotten Realms
-Salvatore, R.A.

5 comentários:

Italo disse...

Eu gostaria de ter conseguido bolar um título legal em português, mas nenhuma das minhas outras idéias chegou perto da sonoridade e significado de Murdercraft. Vai esse mesmo, gostei dele.

Ah, e a partir de agora eu pretendo pôr no final dos posts a minha inspirografia - ou seja, a(s) mídia(s) que por ventura me inspiraram para a criação do texto.

Enjoy.

Eduardo Costa disse...

I did enjoy.

Cabei de vir de WoW, só pensei em Lenneth sendo um night elf. xD

Roger disse...

Cara bom!
Tem muito talento, um dia eu farei um desses para mim...
Nem que seja no meu video-game.
Essa classe é muito estilosa, de repente, eu lembrei de um colega meu que usa uma adaga ajaezada.
hehehehehe
Gostei do post.
Coitado do Lenneth, teve a honra ferida. Qualquer pessoa comum em Luskan faria o mesmo.

Anônimo disse...

Isso me lembra a minha trama nos Silver Marches, que envolviam os elfos demônios, os orcs da espinha do mundo e os magos de Luskan. Ahá, disso você não sabia, né?

Gostei do cara, e tô com pena da puta. Mas vai ver com uma boa chave de b***** ela consegue sobreviver. xD

Thiago disse...

Maaaaaassssaaaa véééééééiiiii....

Entreri ficaria orgulhoso!

Qto ao comentário de Dudu sobre WoW: certamente ele não seria um Gnome!! lol
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PS.: Esse tipo de gente me dá medo O_O